quarta-feira, 19 de maio de 2021

Ração de combate do "Artilheiro".

   Pobre, patriota de lei, "Zé Feliciano" conhecido por "Artilheiro", nascido (na 2ª metade do século passado) de parto natural na horta da "Veiga" quando a mãe apanhava as couves para a sopa da noite. 
    A criatura que nasceu no meio dos repolhos, veio à luz da "candeia" dotado de um paiol de pólvora na barriga, com munições capaz de interpretar o reportório de uma filarmónica, ao ponto de a malta desconfiar que o musico tinha um calo no cu a servir de palheta de afinação. 
    Quando uma vez o Senhor Abade lhe ordenou para baixar o volume, respondeu; Saiba sua Eminência que o "peido" é um grito de liberdade de uma merda oprimida.
Era peregrino confesso da cerveja preta, que para além de temperar o presunto, dizia que limpava o estômago e as nódoas da camisa.
Veio também dotado com a variante de escarrador de craveira internacional. 
     Ria-se como um desalmado quando o Sr. Dr. (dos Tribunais) sacava do bolso o lencinho branco passado a ferro, que desdobrava lentamente enquanto puxava a alma dos pulmões que depositava no lenço num gorgolejo de sarjeta em dia de temporal. Competente, profundo, examinava a alma com a nostalgia de quem se despede do ultimo filho para o resto da vida, antes de a embrulhar e guardar delicadamente no bolso.
    Enfim, um principiante ao lado do "Artilheiro" capaz de acertar com o catarro a quinze metros na ponta do corno de uma cabra-sapadora.
  Sempre tive ciúmes daquele poder de síntese que miseravelmente nunca consegui. Sinto vergonha de nunca ter acertado na nuca do "Meia-leca", que na escola tinha lugar cativo tres fileiras à minha frente, o que levou a minha avó (que Deus tenha) a dizer; "Este desgraçado nunca dará nada na vida".
   Uma ocasião ao sair da escola, a malta juntou-se ao "Artilheiro" no regresso a casa. Ainda não tínhamos percorrido vinte metros, já o Xaquim (que só contava até vinte) gritava como um pardal faminto; "Ai Xexus, desde que xou Xaquim nunca ouvi nada axim".
     Em tempos de vacas magras e de ásperos recursos, o "Artilheiro improvisou uma retrete de madeira no socalco ao fundo da horta, de maneira que o artigo ali produzido caísse em cima do tojo que servia para adubar a terra.
     A retrete conhecida por "casinha" onde se fazia o "serviço" ou necessidades, que o Cancioneiro das Latrinas da Universidade de Coimbra descreveu; "Neste local solitário, onde a vergonha se acaba, todo o cobarde faz força, todo o valente se caga".
    Na casinha destacavam-se equipamentos e assessórios, no lugar do papel chamado higiénico que os mais finos designam de "toalhete", que era substituído nesta operação ecológica pela folha de videira que constituía artigo de luxo na época alta, depois substituído por folha de couve galega, ou quadradinhos de jornais e revistas que de tanto uso, até o "of-deguine ficava cardido de tanta tinta muitas vezes a cores.
   Um Sábado estava a malta a merendar empoleirada na figueira da "Tia Rosa", lá vai o "Artilheiro" à casinha ensaiar o reportório. Mal começou o concerto, o "Didon", um fulano de maus fígados saltou da figueira, arrancou uma estaca dos feijões, atou um punhado de urtigas, e foi passar-lha nos "tomates e traseiro". O efeito foi fulgurante, começou aos berros procurando esfregar a ferramenta no que tinha mais à mão sem descortinar a origem do ardor. Aquilo só visto, mas convenhamos que por nos estragar a merenda foi-lhe muito bem feito.
   A maior performance aconteceu além fronteiras num duelo Germano-Português, quando foi visitar o filho na Alemanha. Passava o tempo a passear no jardim da cidade, onde existia uma retrete igualzinha às nossas, com aquelas divisões abertas por cima e junto aos pés.
Um dia estava sentado no trono a fazer o serviço, quando entrou na casinha ao lado um latagão daqueles 3XL, vermelhusco que conhecia de vista ali do jardim, e reconheceu pelo restolho que fazia a bufar, a puxar e pigarrear.
    Era um verdadeiro alarve, que a paginas tantas não se conteve e soltou um sonoríssimo ruído corporal, e segundo e terceiro. O "Artilheiro" preparou as munições e pensou; O tipo precisa de resposta; Estava em causa o prestigio Nacional que exigia confrontação. Disparou-lhe tres tiros sucessivos de calibre superior aos do invasor. Este repetiu com sonoridade mais avantajada, ao que o"Artilheiro" ripostou por idêntico diapasão. E assim sucessivamente enquanto duraram as munições. 
     Os inimigos mantiveram o despique, ignorando as vitimas dos compartimentos ao lado, apanhados no fogo cruzado que ficaram em silencio entrincheirados durante o duelo que prosseguiu até o latagão  abandonar o campo de batalha.
    Preparado para abandonar a linha da frente, o "Artilheiro deu da caras com uma mulherona parecida com um Sargento Alemão que tinha a seu cargo a exploração das retretes. Com cara de poucos amigos apontou-lhe para os baixos; "Senhor, são cinco marcos (antes da União). Assim mesmo por um serviço em defesa da honra Nacional.
   "É com o "serviço" dos pobres que os ricos arranjam dinheiro para nos emprestar, rematou o "Artilheiro".
    E pronto; Agora, com músicos sem palheta nem calo no cu, resta-nos ouvir musica estrangeira. 
     Que saudades do "Xaquim" e do "Artilheiro".

Américo Pinto 3.
 
       

domingo, 14 de maio de 2017

O Tempo de Emplastros e de vergonha Nacional.


          O Continente e Ilhas em alerta vermelho, provocado pelos anticiclones estacionados em São Bento e Belém, com fortes rajadas de Selfies e propaganda barata para entreter gente pasmada, igual a um bando de cordeiros amansados a comer erva de duvidosa proveniência, sem levantar o focinho do chão para pedir que lhe mudem o pasto, com o peso da canga que suporta a Geringovernação desgovernada, tão ridícula como o sujeito descalço vestido de Ermenegildo Zegna, a roubar velhinhas para comprar sapatos.
          O Fernando, natural da Madalena freguesia costeira de Vila nova de Gaia que todos conhecemos por “Emplastro” sempre por detrás de jornalistas e entrevistados: Antes o Fernando era conhecido por “Animal”, alcunha original dada pelos “Superdragões”. Afirma ser filho de “Pinto da Costa e Victor Baía”. Na infância era tratado por “Palhinha”. Finalmente encontrou o seu nicho de mercado no futebol a tirar Selfies com os adeptos, a sua única praia que o tirou das esmolas nos Semáforos.
          O Marcelo, natural de Lisboa que todos conhecemos por “Presidente MarSelfies” sempre frente às câmaras para tirar Selfies. Professor de Direito, Jornalista, comentador político, Deputado da Assembleia Constituinte e Assembleia da República, Secretário de Estado, Ministro e líder do PSD. Finalmente encontrou o seu nicho de mercado na “Presidência da República” a tirar Selfies com o povo, a sua praia que o tirou da TVI, (Trampolim de Vedetas Indigestíveis).
          Não gosto de “Emplastros” artificiais que nada acrescentam à classe, a não ser para coçar-se o umbigo e alimentar o ego dos seus botões. Os Emplastros de contrafação proliferam como os “MarSelfies”, filho pródigo e produto acabado da televisão, onde Dominicalmente celebrava a missa no “Altar da TVI” para cristãos devotos que ocorriam com mais afinco à sua homília da noite, que à Eucaristia matinal celebrada no púlpito da mesma “Capelinha”.
          “MarSelfies”, “virgem ofendida” com as declarações do Presidente do Eurogrupo, quando este disse que gastamos as economias em “copos e mulheres”. Não sei em que estado ficaria se ouvisse o Tio Avelino, quando se referia por idênticas razões ao vizinho que gastava tudo em: “Putas, vinho verde e cigarros com letras” em tempos de ásperos recursos que nos obrigavam a conter os desejos íntimos com o que havia em casa, a beber água fresca da fonte e fumar cigarros (sem letras) de enrolar com tabaco de onça preta, que deixavam a língua do freguês em estado a embrulhar num cobertor.
          Exemplos de populistas triunfantes da mesma linha de montagem, temos a Cicciolina e Beppe Grillo, a pornográfica e o comediante da Itália “Berlosconica” que resultou na concubina feita “Rainha” e no Palhaço feito “Rei”, tal como noutras paragens, analfabetos “Jardels” também tiveram direito a Puta-Secretaria e a ligações “Corleonecas” lá do sítio.
          “MarSelfies” (o festivaleiro) percebeu de ginjeira que com a Geringonça assanhada, não dá para sair á rua festejar os Santos Populares, nem para continuar o ano a festejar a Santíssima popularidade arrancada à Santa ignorância de fiéis distraídos a venerar Santos de taberna em vez de venerar os Santinhos do Altar. “MarSelfies” sabe que quando tentar ultrapassar a esquerda pela direita será o fim da festa. Convém que mantenha a marcha predefinida pela Geringonça para ir o mais longe possível. Ele sabe que quando tentar encostar às boxes não encontrará ninguém para lhe facilitar a manobra. Ali, a corrida terminou. “O povo anda sereno”, diz “MarSelfies” em coro com a Geringonça: Também, Camilo dizia: “tão bom é o diabo como a sua mãe”.  
          Ziguezaguear da direita para a esquerda com tal descaramento numa pista apinhada de gente, é arriscado e só ao alcance de “Emplastros” especialistas, formados com curso de cadeirão académico, de líder partidário, de concelheiro da República, de candidato (derrotado) à Câmara, antes de saltar para o colo da República. Atributos suficientes que põe em sentinela os “amigos” de direita.
          Para os “inimigos” de esquerda basta-lhe a receita de comentador-opinador de todas as matérias, de protagonista de rábulas de engraçadinho da turma de que o povo gosta. Se tudo não basta-se, também rezam os boletins, que é capaz de receber um Embaixador em cuecas, de fugir dos jornalistas em mota de água, de lançar-se ao Tejo para um banho de poluição com o mérito de sair vivo, de guiar um táxi nas mourarias com minissaia no banco traseiro, de travestir-se de gentil coiffeur de Balzaquianas, e até de estacionar no lugar reservado para deficientes. Sabe-se lá o que mais virá a ser averbado a tão vasto currículo.
          Certo é, que o (enterteinner) “MarSelfies” seduziu a populaça com as mais repentinas guinadas, deixando sempre em alerta e aberta a possibilidade de um dia abandonar a pista na primeira curva apertada, mas só depois de ter promulgado a lei do ingresso de mais cem mil funcionários públicos para acabar de infestar o país dos “ricos”, ao contrario dos “pobrezinhos” Franceses, que vão cortar na gordura do Estado ao despedir duzentos e cinquenta mil para aliviar o sacrifício do povo.
          Segundo é voz corrente, a maior parte dos novos “cem mil” zeladores da Pátria vai para muscular a segurança interna contra os perigosos descarnados esqueletos Lusitanos. Esta, fica-me atravessada na garganta.
          Não compreendo que o “nobre” povo permita a meia dúzia de escribas meios amaricados nos ponham a cabeça em água a repetir vezes sem conta para trabalhar mais e passear menos, gastar menos e poupar mais, em vez de cortarem nas gorduras deles e cessar de cortar no músculo do povo que é a força do desenvolvimento do país.
          Por exemplo, fica aqui a minha modesta sugestão: em vez de aumentar despesas, começar a aumentar receitas com os cortes na polícia urbana, naqueles inestéticos barrigudos, que quando o sujeito chega à cidade e pergunta pela rua onde se pode passar umas horitas num aconchego mais intimo para esquecer o stresse, só sabem dizer onde ficam os museus, os tribunais e a repartição de finanças, como se um gajo depois de roer a trela, fosse à cidade para visitar esses horrores que não interessam nem ao menino Jesus. Vê-se na cara deles que foram traumatizados por terem engolido a sopa sob a ameaça da farda, agora querem vingar-se nos pobres sem defesa, e na estabilidade alheia.
          Será que alguém já deixou de ser assaltado, ou evitou que lhe gamassem a carteira, ou assaltassem a casa, a loja, ou lhe finfassem a parceira por haver mais ou menos polícias na rua? Depois dizem que andamos tristes, como se não basta-se os impostos, ainda querem aliviar-nos a carteira com as multas, e nem sequer podemos estacionar como sempre em cima do passeio ou em segunda fila, para não falar do tempo perdido a parar nos semáforos, e no desperdício de gasóleo a cumprir os sinais de proibição, e ainda a circular a uns miseráveis 120 nas auto-estradas com risco de adormecer ao volante.
          Mas o pior é depois de saberem que andamos tesos como pau de galinheiro, ainda vem perturbar a intimidade do freguês, que por falta de uns cobres para arranjar cama, tem de recorrer ao banco traseiro do automóvel para expressar os sentimentos de afeto à namorada.
         Dantes, quando era permitido apitar, a gente andava mais contente, um vulgar sinal vermelho a passar para o verde, transformava-se num espetáculo multimédia com enormes ganhos de tempo. Agora temos o trânsito engarrafado com a malta a ouvir música e a mirar o “pername” das transeuntes, que sem o apito nunca descobrem que o caminho está desimpedido. Deixamos de apitar nas mais elementares situações. Quando um safado peão punha o pé na passadeira, eu dava-lhe uma apitadela, que saltava logo para trás, e nunca mais repetia a brincadeira, nos cruzamentos, o apito fazia parar os que vinham da direita, propiciando-nos uma enorme poupança de pneus, de travões, gasóleo e tempo ao manter alegremente a mesma marcha, tudo isto com uns palavrões em português suave para aliviar os incómodos da mente.
          Agora, todos emaranhados em “MarSelfisses”, deixamos transformar o País em Patróika, andamos numa correria para as consultas, a tomar “prozac” ao pequeno-almoço, já para não falar das “facaditas” que damos para acalmar o espírito. Enfim, uma boa merda! Sugiro pois que nos associemos a este amplo movimento reivindicativo em prol da nossa tranquilidade, para esquecer consultas e “prozac”, transformar os cem mil zeladores Pátria a mais, em duzentos mil sanguessugas a menos para a coisa não acabar mal. “Ontem” perdeu-se a vergonha para ir ao bolso de quem poupou. “Hoje” quem dá lucro paga a Segurança Social de quem dá prejuízo. Incentiva-se os “Emplastros e mediocridade. É a vida!

domingo, 1 de janeiro de 2017

A obra-prima do Mestre, e a prima do mestre-de-obras!

          Lembrar-me do Ti-Libório dá-me a maior das alegrias, até salivo só de pensar no assunto. Era cesteiro de profissão e barbeiro nas horas vagas. Não de barbearia coletada, mas sim de barbearia improvisada na eira dos canastros ao pé do espigueiro, cuja mó do pé de suporte servia de mesa para os estojos, o cadeirão era um cesto de madeira deborcado no chão.
          Antes de iniciar a tarefa, nunca dispensava o tradicional trago de bagaço que até lhe fazia levantar a boina da cabeça. Em matéria de gastronomia não estremava uma santola da sola de um sapato. Era poeta-divino na arte da desgarrada, dom do qual nos ia dando umas dicas que tantas vezes nos tem safado ao longo da vida em desenrasques de aflições extremas.
          Aos sábados antes da catequese, era o dia de tosquia à catraiada. Tinha sempre a algibeira em alerta vermelho, mas nem por isso exigia qualquer contrapartida pelo serviço prestado. Enquanto desempenhava a tarefa aproveitava o tempo a preparar-nos para o futuro em relação ao mulherio, assunto que muito o preocupava.
          Dizia que mais tarde teríamos que haver-nos com sete mulheres para cada um. Mas quando lhe perguntávamos por onde andavam as outras seis para além da tia Rita, desculpava-se antes de esclarecer o assunto: “as outras são do foro confidencial”.
          Na introdução à aula de ingresso ao curso de “como lidar com o mulherio”, era vinculativo decorar a lição com a fluidez da tabuada dos cinco. Dizia que ter várias mulheres é poligamia, ter duas é bigamia, e ter uma só é uma desgraça de monotonia. Sendo aleatórias as primeiras perguntas, quem falhasse a terceira era considerado causa perdida sem futuro e sem salvação.
          O mestre conhecido como bastante viajante em rabos de saia, continuava a lição. “Quando as aspirantes ao lugar se apresentarem é necessário que cumpram os requisitos. Não será indispensável uma auditoria, porem há que saber se a candidata vem à crava, e como nas boas refeições, o pão duro e a carne passada demais são motivos suficientes para imediata exclusão”.
          Mas o que mais preocupava o Ti-Libório, era a composição da seleção com as diversas variantes. Esposas, amantes, companheiras, namoradas e engates casuais. Tendo preferência pelas divorciadas e viúvas, que são um género de guarda-redes e ponta de lança, indispensáveis na formação de qualquer plantel que tenha pretensões de alcançar a liderança.
          Dizia que o primeiro aspeto a ter em atenção, é saber que uma namorada tem um desempenho diferente de uma esposa ou de uma amante. Por isso um pequeno falho na seleção, a coisa azeda e vira em pandemónio. “Deve ter-se em conta os currículos e as necessárias habilitações.”
          Insistia porem na obrigatoriedade do abastecimento nos vários quadrantes a tempo e horas, para evitar queixas e possíveis reclamações. Esta medida, pelas carrancas que o homem fazia, parecia uma das mais sérias dificuldades que mais tarde iriamos enfrentar. É que na altura ainda vinha longe o milagre mais abrangente da história da humanidade: O Viagra, que graças a Deus e a um médico Britânico, ao tratar de algumas doenças vasculares, obteve desta bênção da ciência e do acaso, um louvado sejas de milhares de milhões de filhos de Deus, de coração, “e outros órgãos ao alto”, a sorrirem à recordação dos velhos tempos, e retirarem do arquivo aquilo que parecia irremediavelmente perdido, para voltarem a encher as discotecas e a curtir o brilho das estrelas graças ao milagroso comprimido, que tal como a água benta, defendo que deve ser fornecido a fundo perdido, (mesmo antes das taxas moderadoras) para purificação de corpo-e-alma e outras milagrosas purificações.
          Recomendava com afinco que uma oportunidade perdida nesta atividade do mulherio nunca mais é recuperada, afirmava mesmo que tudo é muito bonito, mas teimava em afirmar que “o amor é como o fósforo, só dura enquanto há pau”, e que a determinada altura da vida, “o Criador só nos permitirá de dormir acompanhado de um morto e dois reformados”. Fiquei traumatizado com tão macabra afirmação; “Um morto e dois reformados!”
          Aos poucos, quando a tarefa exigia algum descanso, o Ti-Libório fincava o cotovelo na cabeça do freguês para contemplar a paisagem. Punha os olhos a pastar a perder de vista e murmurava; “a minha terra é a mais linda do Mundo”. É claro que tais afirmações provocavam muitas dúvidas, porque era voz corrente que o barbeiro de ocasião nunca teria arredado pé dos arredores da paróquia.
          Emocionava-se quando falava da nossa Vila e da sua respeitada gente. Para vincular o que dizia, contava que uma noite a praça estava cheia para celebrar a eleição de um político. Um morador da praça (bem conhecido) abriu a janela a murmurar: Que tanto povo, que tantas figuras, mas que tão pouca gente”. Quando estas palavras me vêm à memória provocam-me calafrios.
          Lembram-me os anos oitenta quando um ilustre publicitário francês, que fazia as delícias do mundo com os seus spots publicitários. Numa entrevista televisiva foi-lhe colocada a questão, qual a receita para conseguir tal sucesso, respondeu: “É importante conseguir que o consumidor seja um idiota feliz”, e quando lhe perguntaram como é possível conseguir tal proeza voltou à carga: “é fácil por um idiota a pular de felicidade” dando como exemplo: “um cabo de vassoura custa um vintém, três cabos custam dois: se o idiota comprar um fica servido e poupa metade da despesa, mas como é idiota vai comprar os três, e quando precisar do segundo, já precisa da vassoura nova com cabo incluído.”
          Passadas décadas, tal como dantes, a praça desprovida de gente, continua a encher-se de povo, de figuras e a comemorar entusiasticamente. Hoje basta ao político afirmar que viu D. Sebastião no Pingo Doce a comprar um CD da Ana Malhoa para provocar aplausos e aclamações. É assim mesmo: um Mestre de-obra-prima ou a prima do mestre-de-obras é tudo igual ao litro, e se a prima for dotada daqueles generosos atributos, o mestre pode descalçar as sandálias e contemplar as generosidades da prima. Um Mestre descalço e sem generosidades não vai a lado nenhum.
          A verdade-verdadinha, é que esta juventude foi vítima de uma terrível fraude, porque a geração anterior para além de atrasada e analfabeta nunca acreditou em nada, por isso deixou de transmitir aos seus descendentes qualquer valor. O pior foi quando “nós”, burros, analfabetos e atrasados, “começamos” a gritar aos quatro ventos que a juventude é que sabia, a juventude é que conhecia os valores que iriam construir o nosso futuro. Estas coisas não decretam nem se fazem. Não é a juventude que sabe, mas tem a obrigação de aprender os valores que nos regem e os que hão-de-reger o nosso futuro. Talvez esta juventude gostasse de ter conhecido o Ti Libório e alguns dos seus exemplos, antes de andar por aí à solta, carregada de responsabilidade sem saber o que fazer à vida.
          Nós, eramos gente anónima. Eles saem do anonimato através da casa dos segredos e do Pokémon, e ainda com incentivos Institucionais da Geringonça para perder a vergonha de caçar a carteira de quem poupou. Ainda me lembro do tempo que os larápios arriscavam uma surra para gamar a carteira do vizinho. Hoje já nem isso é preciso: o governo presta o serviço de ir larapiando em nome dos larápios para manter viva tão nobre atividade.
          Esta escola de vida dá razão à profecia do Ti Libório: “Pais trabalhadores, filhos calaceiros, netos pedintes”.  “Por favor, tentem ser felizes”. Bom ano.

domingo, 16 de outubro de 2016

Perder a vergonha, disse ela!

          Mariana, destacado quadro da esquerda “Chanel-Caviar”, doutorada em economia na “humilde” Universidade Inglesa (SOAS), onde supostamente terá refinado a teoria que para chegar a rico não é preciso trabalhar nem poupar, mas sim “assaltar” quem trabalhou e poupou.
          Mariana, a quem o ilustre comentador da Porto-Canal, Pedro Arroja apelidou de “esganiçada”, cujo “feeling” pela cobiça do alheio terá herdado do progenitor Camilo, participante ativo no assalto ao Paquete Santa Maria em 1961, denominado “Operação Dulcineia” e considerado como o primeiro ato de pirataria da era moderna. Consolidou a arte na “Operação Vagô” em 1967 com o desvio de um avião comercial da TAP que fazia ligação entre Casablanca e Lisboa, antes do assalto à dependência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, que antecedeu a ocupação da herdade Torre Bela. Tudo atitudes “heroicas” que muita gente não achou heroicidade nenhuma.
          Sabendo que a vergonha é o último bem precioso que temos a perder, é porém coisa de somenos importância para quem nunca teve pingo-dela, e esquece que o País sobrevive graças ao esforço das pequenas, médias e grandes empresas e de seus trabalhadores, para sustentar decisões destes esbulhos que deveriam envergonhar quem tem por dever de taxar a ignorância da classe política, antes de taxar quem cria postos de trabalho, quem poupa e trabalha para manter aqueles que pensam que o futuro está no sofá à espera do subsídio da inutilidade.
          Nunca imaginei de um dia ver Cuba e Venezuela aqui tão perto, com sistemas de governação desastrosa atraídos por estas pobres criaturas que vivem do Estado para melhor poder controlá-lo, que em vez de lutar para que haja cada vez mais ricos e cada vez menos pobres, nivelam tudo por baixo para que o povo fique cada vez mais enterrado na miséria.
          Deveriam estas ilustres criaturas saber que vivem numa ilusão omnipotente, sem nunca serem capaz de entender que não há nada de mais perigoso e mais traiçoeiro que a ambição de um incompetente, que tantas vezes nos obriga a ir ao baú das memórias à procura de velhas recordações, que como as cerejas vem umas atrás das outras, para recordar um velho colega de infância que convenceu a malta a perder a vergonha de assaltar o pessegueiro no pomar do Ti-Bento ali mesmo à mão de semear, com o trágico resultado de acordar o velhote que dormia no alboio das-alfaias- agrícolas, para nos receber à sacholada até nos fazer vomitar os pêssegos antes das repentinas alterações fisiológicas para deixar também a alimentação ingerida durante toda a semana.
          Abençoado assalto infantil. A partir desse trágico dia nunca mais cobicei pêssegos alheios, dediquei-me à plantação de pessegueiros para deles colher os frutos do meu trabalho.
          Deveriam as “Marianas” deste mundo estagiar a cobiça pelo alheio no pomar do Ti-Bento, para aprender que os frutos são de quem os trabalha, e que nunca se deve servir de testa-de-ferro dos “Antónios” matreiros sem escrúpulos, capazes de rasteirar amigos e taxar a avó para conseguir estranhos objetivos da permanência no poder.
          Estas pomposas declarações são frequentes em pessoas deslumbradas e engolidas pelo mediatismo, que mais parecem de uma velha prostituta dissimulada em “Donzela-de-candeeiro” a pregar o sermão à porta da Igreja gritando aos quatro ventos que foi naquele preciso momento que acabou de perder a virgindade, quando todos sabem que só por obra e graça do Espirito-Santo, o Alfa da linha de Cintra ainda não passou por cima como justifica a  permanência da vida de tão badalhoca pregadora.
          Porém nem tudo são más notícias, resta-nos rezar para que um Tio Americano não se lembre de deixar-nos uma herança de património imobiliária com valor de um milhão de euros, que à primeira vista seria a alegria de um sonho, que depressa se transformaria na tristeza de um pesadelo.
          Parece demagogia mas não é. Imaginemos um casal cujos salários sustentam a sobrevivência familiar, e de repente lhe bate à porta a herança de um familiar com um património imobiliário de um milhão de euros, ou seja, entrou-lhe em casa uma despesa anual obrigatória com IMI de 3 mil euros acrescidos da “Taxa Geringonça” (TG) de 1000000x0,30%=3000. Enfim, mais um IMI novo de 3 encima do IMI velho de mais 3 que obriga o desgraçado herdeiro a angariar rendimentos anuais de 6 mil euros para pagar impostos e passar a viver debaixo da ponte enquanto não morre de fome.
          Dirão os mais afoitos que o herdeiro poderia vender o património herdado, que me parece impossível (com esta medida) encontrar um distraído com um milhão líquido no bolso para dele fazer o que bem entender, e cair na desgraça de investi-lo no imobiliário para candidatar-se a perder 6 mil euros anuais, sem contar as despesas de manutenção do imóvel herdado para não o deixar ir engrossar o rol esquelético do imobiliário deste País.
          Sempre ouvi dizer, quem investe as poupanças no imobiliário é porque não quer nada com engenhocas financeiras, apenas pretende acautelar-se das cíclicas desvalorizações monetárias, e nada mais.
          O vosso “Primeiro” até causa arrepios. Diz que não quer cá investidores para investir no que já existe. Deveria esta triste figura saber que, se ninguém comprar o pão existente dificilmente o padeiro voltará a aquecer o forno para cozer nova fornada, correndo o risco de fechar a porta de padaria e forno com os prejuízos daí adjacentes.
          O caminho do destino a dar às poupanças está cada vez mais estreito. Agora que o “homem” já taxou o sol e o ar que respiramos, só falta taxar os gordos para lhe cortar a gordura das lambidelas em salgados e adocicados, para depois taxar os magros que até para lamber vão estar tramados.
          A partir de agora só um tolinho-da-cabeça irá investir em património imobiliário para candidatar-se a pagar anualmente IRS(s)  da mesma coisa o resto da vida.
          Cuidado com estes fazedores de pobres que nunca criaram um posto de trabalho e que não conhecem limites porque precisam cada vez de mais dinheiro, e sendo esse bem precioso cada vez mais escasso, torna-se o pior inimigo dessa gente e de seu populismo bacoco que só acabará quando o dinheiro acabar.
          Vamos acender uma velinha pela alma do recluso 44, verdadeiro cavalheiro em vias de extinção, que comparado com esta tralha parece o Robin do Bosques, certeiro e de modo adocicado é capaz de cortar 20 milhões na gordura do Salgado, deixando aos magros o prazer de lamber, ao contrário dos “geringonços” que continuam a manter a manada de “Boys e Vacas” agrupada a pastar nas pradarias alheias à pala das poupanças do Zé.
          Nunca vi governo tão atabalhoado à deriva sem destino, sem direção e sem nenhuma razão de existir a não ser o odio rançoso pelas poupanças de quem cria empregos e paga os salários de que vivemos.
          Em tempos de poupança e de ásperos recursos apaguemos as velas destes defuntos com o sopro das palavras do saudoso António Aleixo.
          “Prometeis um mundo novo / vós lá do alto Imperio / cuidado não vá o povo / um dia levar-vos a sério. (.) Prá mentira ser segura / e atingir profundidade / deve trazer à mistura / qualquer coisa de verdade. (.) Dizer que pareço um ladrão / mas há outros que eu conheço / que não parecendo o que são / são aquilo que eu pareço.”

domingo, 14 de agosto de 2016

(CGD) “Clã de Gatunos e Delinquentes”

         

          Pois é: tantas vezes com razão se diz: “este anda a ver filmes a mais”. Também é verdade que são esses filmes que por vezes nos acordam para a realidade e para os malefícios causados pela ronha e arte-maldosa dos artistas da nossa “cinematografia” política.
          Daí o título da crónica que vem direitinho do filme “O Clã dos Sicilianos”, uma obra-prima protagonizada por um elenco de luxo com “monstros-sagrados” como, Jean Gabain, Lino Ventura e Alain Delon, entre outros de igual consagração.
          O “Clã dos Sicilianos”, relata a fuga do protagonista da cadeia com a ajuda de uma família de mafiosos dirigidos pelo patriarca da família. Em liberdade o fugitivo propõe aos cúmplices o assalto a uma coleção de valiosas joias que deverão ser transferidas de Itália, para a América do Norte.
          Se o filme se adapta como uma luva de pelica à “mafia” do nosso dia-a-dia, a culpa não é minha. E, para que a coisa não se fique pelas meias tintas, podemos comparar o filme dos mafiosos Sicilianos à nossa triste sina quotidiana, com a populaça na reles figura de tristes figurantes.
          Começaríamos por classificar as tristes figuras que perdem o fio à meada logo no início, e só no “THE END” acordam para a realidade de sempre. Nos vários escalões temos os que fazem, os que veem os outros fazer, os que criticam o que os outros fazem, os que não fazem nem conseguem ver o que foi feito, mas que em conjunto depois de arrebanhados se convertem num viveiro com produção acelerada de governantes, para transformar os poucos que fazem na vaca-leiteira do estábulo e nos palhaços do circo.
          Um amigo sem rebanho nem manjedoura, contou-me que para fazer um empréstimo lhe exigiram a hipoteca de tudo que tinha, acrescido de tudo que hipoteticamente um dia viria a ter, incluindo os avós que já tivera. Ora não tendo avós nem bens deles para hipotecar, percebeu logo à primeiro que aquele tipo de credores seria mais destinado a creditar políticos e amigos da onça. Desconsolado “a ovelha negra” decidiu levar o peditório para outra freguesia onde se respeitassem as famílias e a alma dos falecidos.
          Encaixilhar os figurantes dormentes, com os amigos da onça existentes no quadro do “Clã dos Sicilianos”, é para muitos, coisa impossível, e para outros uma feliz comparação.
          Sem ofensa para os mafiosos de alta craveira que arriscam a vida em cada minuto para conseguir transferir jóias valiosas, os políticos arrebanham famílias e se transformam em seus representantes, formando um polvo de tentáculos ramificados em todos os cargos de decisão, com poderes para a seu-bel-prazer transferir as joias da coroa sem arriscar a vida ou seja o que for.
          O polvo move-se para criar empresas fictícias, que se capitalizam sem necessidade de hipotecar os avós, funcionando apenas o tempo necessário para esconder o capital antes da insolvência, e de voltar a chamar os tristes de sempre a esticar a língua mais três palmos para pagar as favas e a recapitalização da próxima empresa fantasma.
          O mais estranho é que quando as coisas acontecem, toda a malta fica incrédula a queixar-se de nunca ter dado por nada, quando na verdade tudo é feito às claras da luz do dia, ou da noite com a luz do Mexia (tentáculo do molúsculo) que se queixa de ganhar o mísero salário d’um craque da bola com vantagem de nunca falhar os penaltis.
          Há dias num painel de comentadores, um ilustre advogado-político desfazia-se em elogios à vinda de mais um(a) político(a) para a nova administração da CGD, que por coincidência tem as mesmas inicias do (CGD) “Clã de Gatunos e Delinquentes. Quando um dos “paineleiros” lhe perguntou onde viu tantas virtudes na nova aquisição que a ele lhe teriam passado ao lado, o ilustre (lambe-botas) calou-se dando a entender que é mais rentável ficar perto de quem tem a chave da porta, em vez de arrombar com pé de cabra e assaltar de Kalashnikof, só em uso pelos que perderam a lei à vida e não sabem fazer mais nada.
          Hoje, sábios e sabichões tentam explicar à malta o buraco-negro da CGD, com a famosa tática que os pais explicam aos filhos a chegada dos manitos que vem de Paris, com a diferença de agora em vez da criançada a cegonha trazer água no bico.
          Bem-haja a cegonha que desde os anos 80 e do célebre apagão se tem fartado de abastecer o ninho, formando uma família de manitos trabalhadores e cavadores de buracos-negros com profundidade de 3 mil milhões, que o nosso primeiro António-das-cantilenas quer 5 mil milhões, para não andar chatear a malta todos os dias.
          Para que a festa seja completa falta agora assistir ao desfile dos novos galardoados, a caminho da galeria onde já mora o Sr. Comendador “Quaresma” a quem se juntarão os futuros reis-da-finta-Comendadores, tal como: “Alexandre Sobral Torres, Alexandre Vaz Pinto, Almerindo Marques, Álvaro Pinto Correia, António de Sousa, António Castro Guerra, António Vitorino, Carlos de Oliveira Cruz, Carlos Tavares, Celeste Cardona, Daniel Proença de Carvalho, Eugénio Ramos, Faria de Oliveira, Francisco Esteves de Carvalho, João Salgueiro, Luís Alves Monteiro, Morteira Nabo, Norberto Rosa, Mário Cristina Sousa, Luiz Mira Amaral, Pedro Dias Alves, Armando Vara, Mário Lino”, etc. etc.
          Agora que o vento sopra de feição a anunciar chuva forte de condecorações, depois da seca e do jejum com Pulinho das feiras, Pedro de Massamá, e com o Cavaco e a Maria, chegou agora a abundância com os beneméritos da coisa pública chefiada pelo festivaleiro Marcelo das medalhas, capaz de um dia mostrar aos velhinhos do Lar como humildemente se come da marmita, para no seguinte mostrar como se come caviar no iate do amigo Salgado, e depois recusar a Berline de gama alta na presidência, mas que não se enfastia de por a voar um Falcão da Força Aérea Nacional para ir ver um jogo de futebol a Lyon (França).
          Tudo isto recheado do “Geringonço”, António-das-Cantilenas Rei-da-Geringonça em permanente campanha eleitoral (desde que agarrou o poder pela porta do jerico) para ver se escapa à fogueira na praça pública, evitando assim transformar em cinzas a (já) defunta carreira politica.
          Enfim, tudo boa-gente trabalhadora, que pouco a pouco vai cavando bem fundo, sem grande ruido de superfície, a sepultura onde a Pátria será sepultada para a eternidade.
          Agora que a Geringonça safou-de-vez, e que a demagogia política vai avançando colidindo com a realidade de já pagarmos (IMI) o sol e o ar que respiramos, fica cada vez mais claro a fatalidade na permanência da austeridade e o regresso de mais um doloroso resgate já a caminho.
          Sem um amplo escrutínio e forte contestação a este tipo de gente, que nos promete uma democracia de eterno céu azul sem espirros nem constipações, mas que não passa de uma ditadura assolapada a fazer de nós uns anjinhos de cera a amarelecer no altar.
          Finalmente 40 anos não foram suficientes para que estes anjinhos de cera deixassem de ter medo de usufruir da liberdade que outros anjos-da-guarda conquistaram a pulso.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Cuidem-se, os Santos Populares


          Com maior ou menor convicção, já todos nos perguntamos onde é que isto vai parar. Para muitos vai parar longe, para outros já foi longe demais. S. Marcelo, mais popular que os santos da concorrência, (incluindo o António protetor dos animais), não tem dias de festa marcada. O ano todo é de foguetada, de desfiles a dar pelas barbas aos Bairros da Bica e de Alfama, com o pagode a seguir a rusga apanhando as canas, à procura da doçura do mel antes lamber as amarguras do fel a das promessas que nunca mais saem do papel.
          Sabíamos de ginjeira que S. Marcelo não fazia milagres. Mesmo não sendo daltónico, sua santidade acha que preto e branco são iguais, permitindo assim mamar nas tetas todas, dando razão ao padrinho-Coelho que ao batiza-lo de “cata-vento” acertou na muche que nem Robim dos Bosques no tiro-ao-arco.
          Poderemos (talvez) atribuir ao Santo, o milagre de ainda não ter morrido afogado na praia do Guincho ou envenenado nos terminais do saneamento público alfacinha do Rio Tejo, quando no célebre mergulho de campanha eleitoral lhe terão avariado os ponteiros, transformando o mergulhador em comentador, e depois em S. Marcelo dos aeroportos que aparece por todo o lado mais a miúde que a Sª do Caravággio.
          É portanto de presumir que desta santidade ninguém levará nada. Cuide-se o António com as frequentes variações da meteorologia e da direção dos ventos. O “cata” usará toda a devoção para seguir o vento que passa protegendo antes de tudo a vaidade dos seus botões e a popularidade do seu umbigo.
          O António, esculpido do mesmo pau, sobejamente conhecido pela lealdade a Seguro que normalmente deveria morrer de velho, mas que viu esfumar-se-lhe a alma e o futuro político na flor da mocidade.
          Dizem os entendidos que o António, intruso no 13º Governo da Republica é mais perigoso que seu antecessor, recluso 44 de Évora que delirava sozinho. O António, entusiasmado pelos “compagnons de route” que lhe conferem uma lata ainda mais descarada que a do seu antecessor, sem pingo de vergonha que até obrigou o inquilino de Belém a considerá-lo de “otimista irritante”, mesmo se em tempos idos foi seu docente e lhe atribuiu (sem saber ler e escrever) a nota de melhor aluno, que pelos vistos não quer repetir neste novo “período escolar”.
          Considerações e irritações proferidas no lançamento do recauchutado “Simplex”, onde o “bom aluno” ofereceu uma marionete transformada em vaca voadora à anfitriã do evento, que perante a plateia (do estábulo) repleta de “Boys e Vacas” ficaram todos alucinados de ver a vaca voar com o futuro deste País.
          “Simplex” generoso, que tão bondosamente vai “simplexar” a vida da gente, pegando a gente pela mãozinha para preencher a folha do IRS, e assim poder limpar a gente do resto dos pozinhos que ainda ficaram, para que a gente fique pobrezinha, limpinha mas honradinha.
          E eu, que desgraçadamente sou “pobrinho” não vou usufruir de tanta generosidade, depois de uma vida inteira a contribuir com língua de três palmos para o bem comum, preenchendo as ditas cujas, que para além dos “pozinhos” também me levaram a testosterona e a vontade daí adjacente, em troca das queixas e lamúrias que todos os santos-dias tenho de ouvir e suportar lá em casa. Finalmente com o passar do tempo consegue-se entender melhor aqueles nacos de relíquias da sabedoria popular. “Quem faz bem ao comum, não faz bem nenhum!”
          Abençoada geringonça que tantas nos têm contemplado. Pela calada da noite à luz da EDP, contemplou a malta com mais seis cêntimos de imposto na gasolina, para mais tarde a contemplar com a baixa de um, ao mesmo tempo que as gasolineiras vizinhas baixavam três, transformando a baixa de um no aumento de dois para acrescentar ao peteiro dos seis que já lá moravam. E lá vão oito.
          Quem no seu perfeito juízo vai investir mais um cêntimo num país em queda constante no investimento. No crescimento. Nas exportações por não ter bens para vender. Nas importações por não ter dinheiro para comprar. Que em meio ano destrói 70 mil postos de trabalho. Onde uns só querem trabalhar 35 horas, outros tem que trabalhar 40, outros gostariam de trabalhar 50 e não podem trabalhar nenhuma. Outros que tanto pouparam durante gerações para conseguir fazer três casinhas e agora com o IMI progressivo vão tem de vender a terceira para pagar o IMI das outras duas. Onde as pensões são de miséria e o governo faz um violento esbulho de 1400 milhões à Segurança Social para financiar a reabilitação urbana em Lisboa. Onde se fecham escolas para abrir Bordeis. Onde se fecham Hospitais para financiar arraiais. Onde os idosos morrem abandonados. Onde 30% das crianças passam necessidades. Onde se dificulta a produção do repolho e facilita a produção da canábis. Onde é prioritário trocar o cartão de cidadão pela carteira de cidadania. Onde aos 16 o Manuel se pode transformar na Maria. Onde se põe a mais velhinha profissão do mundo a pagar IRC para alimentar a Geringonça & Companhia. É isto que incentiva a poupança e o investimento neste País?
          Não é portanto de estranhar que a seguir aos 14000 mil milhões que passaram a fronteira a salto nos últimos quatro anos, outros tantos tenham já passagem paga de ida (sem volta) para viajar nos próximos quatro.
          Por este andar, acabaremos todos a trabalhar para a geringonça, recordando os países da mesma doutrina que põe cinquenta operários a descascar um pinheiro (para criar emprego), dividindo depois um salario mínimo por todos no final do mês. Ou seja 10€ mensais divididos em 30 cêntimos à jorna, e “vivóvelho”.
          Pensando bem, só um tolinho-da-cabeça sem dois dedinhos de testa deixará que o bicho lhe pique o milho que ainda tem no canastro. É portanto uma “Lapalissada” concluir que não havendo milho não haverá pão, e que acabaremos todos a dançar na eira descalços com as palhas à cinta de flecha em punho a cantar o “Tumbalalá” ao Chefe Bruxo da Tribo.
          Estas uniões de fato (e gravata) por conveniência, entre mergulhadores de salto-em-parafuso-com-botas e capoeiristas-descalços, nunca darão certo. Quando um dos nubentes vira costas é logo atraiçoado pelo outro acabando sempre o dia à cornada.
          Faz recordar-me as “Ratas-de-Sacristia” quando se encontravam à entrada da missa do domingo a acotovelar as filhas. “Chama-lhe filha, antes que a filha dela te chame”.
          Peitudas e bondosas, faziam as delícias dos veteranos (& Companhia) que comentavam: “Olha que par de mamas, Belino”. “E para que servem as mamas?” Respondia Belino: “Para manter o homem à nascença e para depois continuar a mante-lo vivo, seu burro!”
          Se a presidência parece uma turné de música pimba, a governação não vai por melhor caminho. Isto é mesmo uma geringonça ensarilhada que já ninguém encontra a ponta por onde lhe pegar.
          Depois acusam-me de ver sempre o copo meio vazio. Porem tudo mudou, agora já nem o copo consigo ver. E se fosse corajoso até diria que esta é a conjuntura política mais manhosa e assustadora que vivo pós o 25 de Abril.
          Tenho que dar o braço a torcer. Depois de tanto malhar em “Cavaco e Coelho” por estar convencido que nada de pior nos poderia acontecer, reconheço ter-me enganado redondamente, comparado com o forrobodó que vejo hoje até me apetece citar o velho ditado popular. “Atrás de mim virá, quem de mim bom Fará”.
          E pronto: enquanto continuamos apeados, teremos sempre vacas voadoras ao almoço, afetividade e música celestial ao jantar, com os protagonistas a cantar a Grândola Vila Morena como o Zé Cabra canta os tomates do padre Inácio, nesta “desgraçada” Republica Portuguesa cada vez mais desprovida de pão e vinho sobre a mesa.
          Finalmente, eles fazem milagres! Já temos as vacas voadoras do António. Faltam os porcos a andar de bicicleta do Marcelo! Se a razão tem sempre razão, espero que desta vez a razão não tenha razão tarde demais!

domingo, 24 de abril de 2016

O, Wing-Chun, do Legionário


          Já poucos se lembravam do “Mandarim” quando regressou à terra natal. Agora conhecido por “Legionário”, nome que conquistou depois de alistar-se nas forças especiais da Legião Estrangeira Francesa para combater na guerra da Indochina (atual Vietnam do Norte, Camboja e Vietnam do Sul) ao lado das Forças Armadas Francesas.
         Homem educado, de fino trato, admirado de todos, de escassas mas de pesadas palavras, alheio aos disque-se-disse e aos cochichos de lareira. Lobo solitário portanto, que caçava apenas para suprir as mais prementes necessidades indispensáveis à sobrevivência.
          Um final de tarde como tantas outras, estávamos velhos e novos reunidos (matilha incluída) no largo da encruzilhada a ouvir as notícias trazidas pelo companheiro da “Calina”, um alfacinha-de-gema com cabedal valente, para além de outros valentes cabedais que tinha na conta-corrente. Conhecido por “amigo-da-onça”, (não pelas corriqueiras e habituais razões mas) porque enrolava cigarros com tabaco de onça-preta.
          Quando enrolava um cigarro a onça caiu-lhe ao chão. O Legionário com estranha cortesia em uso naqueles tempos, apanhou a onça que entregou ao visitante. Este, ao ver tão obediente disponibilidade voltou a deixar cair a onça, e sem pingo de cortesia ordenou ao Legionário para voltar a apanhá-la.
          Até ali tudo bem. Todos presenciamos a cena até ao momento que o Legionário se baixou para fazer o frete. A partir daí foi com se a fita partisse ao meio, provocando uma branca na malta, que só depois de a branca ir à vida voltamos a ver o “amigo-da-onça” (preta) a cores, sentado dentro da pia de pedra que servia de bebedouro das galinhas. A Guarda veio, tomou conta da ocorrência sem testemunhas, apenas com as declarações do Ti-Bento que afirmava ter visto naquele preciso momento duas galinhas a depenicar milho no chão. Ora não havendo milho por ali, a investigação concluiu que as galinhas depenicavam os restos mortais do sorriso do “amigo-da-onça”, que lhe tinham saltado da dentição para o chão, e dali para o papo das poedeiras.
          A curiosidade era muita, mas o Legionário não descosia o segredo. Só passado algum tempo quando a malta regressava da escola, depois de um desaguisado-sério com os repetentes da 4ª do lugar vizinho, roupa esfarrapada, arranhões e nódoas negras na cara e afins, para além da desgraça da minha samarra alentejana novinha em folha ter deixado o pelo da gola no campo de batalha. Só então o Legionário pediu ao Tio-Bento para nos reagrupar que queria ter uma conversa connosco no seu quinteiro.
          Mandou-nos sentar à “birmanesa” e começou por pedir-nos para jurar de nunca agredir ninguém, de nunca frequentar locais propícios a desacatos, de só se defender das agressões depois de esgotadas todas as soluções, e só em risco de vida tentar defender-se de armas brancas acrescentando: “mais vale um cobarde sem carteira vivo, que um herói com carteira morto”.
          Regras a mais para os princípios de quem tinha sede da desforra com os repetentes da 4ª já no dia seguinte. Metade da malta desistiu das aulas ao primeiro dia, preferindo passar o resto da vida a comer “pela medida de Castro” que jurar amor eterno a tão apertadas restrições.
          Na aula seguinte o Legionário desenhou um boneco numa pequena lousa com caixilho de madeira, marcou um traço vertical no centro do boneco e outro horizontal à altura dos ombros. “Esta é a linha central que devereis defender. Rosto, garganta, plexo solar, testículos, joelhos, canelas e tornozelos. A vossa linha central é a do vosso adversário que devereis atacar. Ignorai as partes periféricas do corpo. O mais rápido para chegar de um ponto ao outro é uma linha reta, razão pela qual a vossa posição de defesa será sempre em frente à linha central do agressor e à distância do vosso braço-ponte que serve de radar para captar tudo que tente passar por ali. Há que respeitar as regras mantendo-se sempre descontraído economizando os movimentos. Caminho livre – seguir em frente. Caminho ocupado – manter-se colado. O agressor força – deixar passar. O agressor recua – seguir e manter-se colado”.
          “O wing-chun não bloqueia para atacar, ao defender ataca em simultâneo. Não tem graduações nem regras, sendo uma prática de defesa pessoal, a única regra é imobilizar o agressor. Se demorar mais de cinco segundos para despachar o adversário há 90% de possibilidades de perder a batalha.”
          Tudo começou pelo “Siu-Lin-Tao”, um género de coreografia com 108 movimentos que só depois de percebe-los seguiu o “Chi-São” treinado com um colega para aprender a sensibilidade e os reflexos tácteis. Mais tarde veio o “Chan-Kiu” para aprender a olhar o agressor de ângulos diferentes e para sincronizar os membros superiores com os inferiores. E só muito mais tarde veio o “Biu-Jee” para aprender a concentrar toda a energia numa só batida usando mãos e cotovelos com o corpo em rotação.
          Aqui chegados a procissão ainda não saíra do adro. O legionário foi cortar a ponta de um carvalho que enterrou no chão ao lado do canastro, deixando de fora a altura de um homem com dois galhos do tamanho do antebraço ao nível dos ombros, outro galho ao nível do plexo solar, e mais um a servir de perna como quem vai chutar. Batizado de “Parceiro” servia como corretor dos ângulos e das técnicas aprendidas anteriormente. A prática constante desenvolvia força, energia e potência dos braços punhos e pernas.
          Quando chegou a fase do bastão e das armas brancas já só restávamos dois, e também tinha chegado a hora de fazer-se à vida. Na altura não era uso ver filhos e netos de barba rija a viver à pala dos avós e dos pais. Não éramos piegas nem precisávamos do acordo de Schengen (que andava a monte), nem dos voos low cost e do TGV à porta. Umas pedreiras em cabedal-de-boi eram suficientes para ir a pé à procura de uma vida mais digna, ao contrário de muitos mamões, que dificilmente encontrarão uma vidinha melhor do que aquela que tem.
          Passados alguns anos chegou a notícia que o Legionário tinha acertado contas com o Criador. Paz à sua alma e obrigado pelas sábias recomendações que sempre nos evitaram de por em prática a teoria da sua arte.
          Recentemente na companhia de um velho amigo (que nunca entendeu nada do o “Siu Lin Tao”) visitamos o quinteiro do Legionário, agora povoado de silvas que invadem as imediações. Com algum sacrifício conseguimos abrir caminho até ao canastro. Imponente, em posição de “Jum-Sau”, o “Parceiro” com dois palmos de corrente do cão (corroída pelo tempo) pendurada no braço direito, no esquerdo baloiçava o pedaço da asa de uma cesta de madeira. Em harmonia como quem dança a ultima valsa, reatamos a sessão de treino outrora interrompida.
          Terminada a sessão pareceu-me ouvir: “quarenta anos de longa espera, para que este “Badameco” me venha acariciar como uma velha prostituta”. Fiquei ofendido. A valsa terminou. Pendurei a casaca no trambelho da cancela, voltei para acertar as contas com o “ Parceiro”. Um duplo Bong-Sau / Gan-Sau, reforçado de Junk-Tekj au nível da virilha, foram suficientes para desenterrar o Parceiro do chão. Com falta de treino para a queda foi bater na mó do canastro e partiu um braço. Com falta de treino para o ataque parti um dedo, pedi ao amigo carpinteiro para enterrar o “Parceiro “e para curar-lhe o braço com cola branca da madeira. Pedi à mulher para me encanar o dedo com duas caninhas. Os combalidos foram para convalescença com a promessa de voltar à carga antes que a história seja definitivamente contada. Isto não vai ficar assim…

domingo, 14 de fevereiro de 2016

“Quem me quer não quero eu”


          A situação dos refugiados recorda-me a frase do Sr. Avelino, (quem eu quero não me quer, quem me quer não quero eu), que regressou do Brasil mais teso que pau de galinheiro, mas satisfeito porque não emigrou para fazer fortuna mas para ganhar a senhoria que o arrancasse do lote de um Avelino qualquer.
          A frase era repetidamente badalada quando a conversa encalhava no seu enlace matrimonial. O “Sr.” tinha várias pretendentes ao cargo, mas quando se lhe apresentava uma das que, “quem me quer não quero eu”, fazia questão de fazer-lhe a prova do algodão que terminava sempre num berbicacho por culpa da falta de eletricidade e de água corrente, e ainda o bônus do fumo da lareira que levou a senhoria do Sr. Avelino a findar a vida solteiro com a frase e o saquinho do algodão pendurado na cabeceira da cama.
          Tal como o Sr. falecido, os refugiados também fizeram a prova do algodão ao nosso País, agora com eletricidade, água corrente e o bonos do ar climatizado, o nosso querido País continuaria solteiro com o triste resultado de o algodão ficar mais sujo que o chapéu de um pobre à moda antiga com tanta porcaria que anda por aí.
          Já nem se consegue realçar aquilo que temos de bom. Um dia um colega estrangeiro quis saber o nome de um prato típico da nossa gastronomia. Sugeri-lhe o bacalhau, (palavra que nunca conseguiu pronunciar corretamente) e para descrever-lhe o tipo do produto com a mão a ondular como quem vai a nadar, lá consegui transmitir-lhe que se tratava de um peixe. O colega foi comprar uma folha de “bacalau”, e só no dia seguinte quando vi que o homem deitava lume pela boca e que os pipos da cerveja não conseguiam apagar as lavaredas, me lembrei de ter esquecido de o alertar para por o (bacalau) a demolhar pelo menos durante um dia. Quando depois convidei o amigo para visitar o meu País, respondeu que nem com uma corporação de bombeiros à perna cá poria os pés.
          Outra vez, quando orgulhosamente mostrava Portugal no mapa a uma colega, (também estrangeira) respondeu-me que aquilo parecia um campo de futebol e que se o Eusébio marca-se um canto com mais força teria de comprar barbatanas para ir buscar a bola au mar, ou então teria de tirar o passaporte para ir busca-la à Espanha.
          Mas como não há duas-sem-três, depois de uma vida a virar frangos por aí, consegui encontrar um país com um povo igualzinho ao nosso. Nos dias de festa todos levavam uma galinha viva que atiravam aos crocodilos do pântano antes de, entusiasticamente começar a aplaudir e cantar. O chefe lá do sítio viu que não tínhamos galinha, ofereceu uma à minha colega, que menos bondosa com a bicharada, tratou de meter-lhe a cabeça debaixo da asa para a adormecer antes de enfia-la sorrateiramente na bolsa da velha mota (com dois selins de molas e matricula no guarda-lamas da frente) que tínhamos alugado para as nossas deslocações. Os crocodilos f….am-se, e nós saboreamos naquela noite o melhor arroz de cabidela que me lembre desde que sou gente.
          A única diferença entre lá e cá, é que isto é muito mais pantanoso, com a tradicional capoeira substituída pelo aviário para dar vasão a tanta procura, com tanta gente que prefere bater palmas à bicharada que saborear o delicioso arroz de cabidela.
          É por isso que os refugiados terão recusado a nossa bondosa hospitalidade, com receio de também serem confundidos com demais aves do mau agoiro para alimentar os predadores do pântano.
          O mundo é demasiado pequeno, e os refugiados sabem de ginjeira que não conseguimos sair do “lixo”, que somos tratados de piegas e de burros que puxam a carroça por tudo quanto é sítio no mundo. Eles sabem que os nossos governantes andam há meio século a mostrar o que valem, e que na verdade mostraram valer muito pouco. Apenas tem mostrado habilidade para convencer os amnésicos de sempre a procurar a côdea no ninho da casota do cão, sabendo de antemão que no lugar da côdea vão encontrar as pulgas que o Bobby lá esqueceu.
          Os refugiados dão um exemplo de coragem a esta espécie de gado manso que pasta toda a erva que lhe põe pela frente. Preferem morrer debaixo das bombas do (seu) Oriente, que naufragar no lodo do pântano do (nosso) Ocidente onde presente e futuro se afogam para sempre.
          Eles sabem que um País cheio de idosos a morrer abandonados, outros a morrer nos corredores (da morte) dos hospitais, reformados e crianças a passar fome, é um país que não serve de exemplo nem de asilo para ninguém, a não ser para os entusiastas seguidores dos crocodilos do pântano.
          Os refugiados sabem que esta malta tem estômago para tudo, até para caçar os €6000 de ajuda comunitária (por cada) para depois os abandonar à sua sorte.
          Quem no seu perfeito juízo escolhe um país onde a palavra de honra é letra morta? Um país onde quem perde eleições governa, e quem ganha é governado? Onde se transmite aos jovens os míseros exemplos que para conseguir na vida é preciso rasteirar os amigos e praticar trafulhices para lá chegar? Os nossos governantes são o rosto desse triste exemplo.
          Os refugiados sabem que esta gente já não consegue dissimular a falsidade com que geneticamente vive. Até sabem que já substituímos as comemorações do dia da liberdade e da implantação da república para comemorar os aniversários das saídas de políticos corruptos dos calabouços. Vergonhas que cavalgaram fronteiras e que destruíram a credibilidade do nosso País. Agora rezemos-lhe pela alma.
          “Um dia, num futuro que não vem longe, uma estranha frota de velhos navios corroídos pelo tempo e pelo uso parte do golfo de Bengala e ruma em direção à Europa. Traz a bordo um milhão de estropiados, os esfomeados dos “países subdesenvolvidos”, que, cansados da miséria, resolvem bater às portas do paraíso do homem branco”. Assim foi feita a apresentação do livro, “Mortos/Duzentos milhões/Todos nós”, de Jean Raspail, que parecendo uma obra de ficção é sobretudo uma obra de antecipação não exatamente científica.
          A velha frota de navios corroídos pelo tempo ainda não largou as amarras do golfe de Bengala. É do mar egeu que os velhos navios corroídos pelo tempo largaram amarras com centenas de milhares de famintos e estropiados que o paraíso do homem branco intencionalmente estropiou.
          Nada acontece ao acaso. A Europa fabricou famintos para legitimar a velha tradição terceiro-mundista de levar galinhas à festa para alimentar os predadores do pântano e para mostrar ao inobediente homem branco que é proibido apreciar o arroz de cabidela.
          Finalmente é preferível morrer solteiro, que viver o resto da vida entulhado na porcaria. Sábia frase do Sr. Avelino. “Quem eu quero não me quer, quem me quer não quero eu”.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

A maldição das Troikas


         
          Sem tempo para respirar nem para colar os cacos deixados pela Troika dos ricos que tinha tudo e queria mais, eis o milagre das rosas com a Troika dos depenados que não tem nada e quer tudo, liderada por alguém que odeia quem ganha por “poucochinho”, adora quem perde por “muitochinho”, e acha que com “trafulhices e rasteiras” pode governar um país e um povo, medindo os dois pela bitola dos da sua laia.
          Pobre classe média. Mercadoria e escravatura dos tempos modernos, outra vez entalada entre pobres e ricos, a rezar pelo Marquês de Pombal, para a libertar do garrote asfixiante que a levará até ao cadafalso.
          Faz lembrar-me um casal com filhos, uns, ajudam os pais, outros, criticam tudo, dão lições de moral a toda a família como se deve gastar, sem saber por onde lhe pegar para ganhar e poder pagar, esbanjando tudo nos copos, até á destruição da família e do património familiar.
          Só quem anda distraído poderá ficar surpreendido com o espetáculo deprimente a que assistimos. Desta geração de políticos dificilmente se poderia esperar melhor. É só retorica de ataque e defesa, de resto nada mais.
          Sendo católico praticante de vez-enquanto, prometo ao Pai-do-Céu, neste momento miserável, um sermão e missa cantada com mais de dez padres, para agradecer o milagre de neste interregno de “Desgovernação”, nos libertar desta canga, e varrer de uma ponta à outra, com este saco de gatos assanhados, mandando-os alimentar-se ao caixote, lá onde eles e as agências de rating colocaram um dos Países mais tranquilos do mundo: LIXO.
          Há dias li o comentário de um leitor, relacionado com o artigo de um jornal Espanhol que dizia: ”Portugal, aquele País maravilhoso arrisca-se de ser governado por um político sem escrúpulos”. Lembrei-me logo de uma antiga fiada na freguesia vizinha, onde os anfitriões não acharam graça nenhuma de nos ver a querer contar a história da carochinha às suas mossas. O Meia Leca que por razões obvias só valia por metade, viu que a coisa ia descambar para o torto e que o “futuro” estava do outro lado, foi completar a meia dúzia dos cinco (rivais) e meio, obrigando-nos aos dois colegas a aguentar a parada, e decidir por unanimidade a prudente decisão de dar à sola em retirada apressada, iluminados pelo luar, que na fuga nos dava pelas costas a projetar a nossa sombra lá para a frente, com o meu colega a gritar: “ foge pá que esses gajos são uns gigantes do c…lho”.
           Já em terreno mais acolhedor, esperamos de escopeta apontada, carregada com cartuchos a cacos de pote. Os gigantes não vieram saborear os cacos. Porem, não consegui demover o colega, que fez questão de esperar o (cobarde) Meia Leca, para aquecer-lhe o pelo e atirá-lo em pelota à corga. Isto traduzido em linguagem-chá, é o mesmo que mimar o amigo com o mesmo miminho que nos deseja, atirando-o ao riacho tal como Deus o atirou ao mundo, antes acender uma fogueira com a roupa para espalhar o frio de uma espera tão longa e gelada.
          Será a maldição das Troikas? Nunca pensei chegar à idade que cheguei para ficar órfão de quase tudo aquilo que mais admirava. Na política vê-se por aí uns “Gringos” que casam por conveniência, cujo projeto de vida se limita à divisão do valor das prendas, sem outro horizonte nem outro futuro para os filhos e para o dia de amanhã.
          Outros, com postura mais bondosa e mais “cool”, saltam logo para uma “menage-a-trois” com quatro, a curtir mais uns momentos “bacanas no ripanço”, deixando o abastecimento da manjedoura ao critério da parolada, e o mundo nas mãos de Deus para que tenha mão nele já que é fruto da sua invenção.
          O mesmo é dizer, que votar neste tipo de gente é saltar no desconhecido, e certificar-como-bom aquilo que mais se deve condenar no comportamento de alguém ao longo da vida. Cobardia e deslealdade.
          Isto não vai pelo bom caminho e não se vislumbram abertas nem melhorias para os próximos tempos. Muita juventude pensa que a vida é um filme, e que um governo é um jardim-de-infância mas não é. Só deveria poder governar quem aprendeu algo na vida, e que em final de carreira colocasse aquilo que aprendeu ao serviço da comunidade. Que mais- valia traz um “rapazote”, que em casa precisa dos pais para lhe assoar o nariz, que em vez de pegar no pau do cabo da picareta para trabalhar, pega no pau da bandeira partidária para sentar-se à mesa do Orçamento do Estado a lambuzar à custa da miséria do povo? Depois queixamo-nos da desgraçada vida que temos.
          A ideia que a vida é um filme é o disparate de um povo que adora olhar para a lua através da sargeta dos esgotos onde vive. Em vez de limpar a porcaria que tem à volta, prefere sonhar que pode sair dali com azinhas ou que o Pai Natal e o governo os virão desenterrar.
          Sei que nós Portugueses, quando nascemos, nascemos sempre para ser grandes. Mas por esta ou por aquela razão, nunca passamos de pequeninos e a culpa nunca é nossa. A culpa é da crise, dos mercados, da Europa, do azar, do governo, da oposição, da falta de subsídios, das cunhas, dos políticos, dos capitalistas e dos chupistas, do sol e do frio ou até dos “c…ões do padre Inácio”. O mundo parece conjugar contra esta espécie predestinada a ter um lugar ao sol, mas que a p.ta da vida teima em deixar ao relento sem nunca percebermos pela alma de quem.
          Nunca mais entendemos, que o mais normal é que existe sempre alguém melhor do que nós, a querer mais do que aquilo que queremos, o que é para nós uma grande chatice. Quando era pequeno também queria ser padre, embora hoje reconheça que seria uma desgraça, com a agravante de agora não poder desabafar com o filtro do costume. Parece porém uma “lapalissada” dizer, que quem é bom chega sempre lá, e quem não o é fica com o que há. Resumindo e concluindo, cada um tem aquilo que merece.
           Se a vida fosse um filme e cada um fizesse o que lhe apetece, não existiriam homens do lixo, contínuos nas escolas, manicuras, cangalheiros, caixas de supermercado, estafetas, padeiros e porteiros, pedreiros nem carpinteiros. Enfim, tudo profissões com as quais ninguém sonha mas sem as quais não conseguimos viver. Muitos não terminaram a escola obrigatória. Mas são muito mais inteligentes, espertos e felizes, que toda essa carrada de amestrados que mete dó a arrastar penosamente a alma pelas ruas da amargura.
          O sonho só se da bem com os poetas. Quanto ao resto, é o acordar que importa para ver que há sempre alguém melhor, e não ter medo de fazer outra coisa, mesmo se isso implica fazer algo contra aquilo que estudamos, e receber um terço daquilo que sonhamos. Cada um é pago por aquilo que vale, na verdade quando começamos valemos muito pouco. Um canudo no bolso, só serve para iludir na política, de resto a vida não deixa de ser o que é.
          Diz o povo que sonhar não custa, razão pela qual não vale a pena sonhar. As empresas borrifam-se para os sonhos dos aspirantes a doutores. O povo deverá evitar problemas, borrifando-se para os aspirantes à mama da mesa do orçamento do estado. Há que fazer-lhe baixar a crista, vestir-lhe o fato de macaco e mandá-los trabalhar.
          Os jovens que admiro, são os que procuram trabalho, e que deixam essa coisa rara do emprego para os apaniguados e para paus mandados. Os jovens que trabalham são o nosso futuro. Depois de resolver a vidinha familiar colocarão ao serviço da comunidade o que aprenderam ao longo da vida. Os mamões são a nossa desgraça.
          Para os aspirantes à mama, e para os mamões no ativo, aconselho a teoria do meu colega. Aquecer-lhes o pelo e atirá-los à corga em pelota, e acender uma fogueira com a roupa para espalhar o frio que nos fazem passar.
          Acabou a era dos governos Caloteiros e presidentes Politiqueiros. Entrou a dos Sendeiros e dos Trauliteiros.
          Assim nunca mais é sábado, nem a Troika nos desampara a loja.