segunda-feira, 20 de agosto de 2012

«Tempos Modernos»

17/08/2012
A escola da vida e o pão que o diabo amassou, sempre me sussurram ao ouvido, que um dia seria figurante neste filme da vida real, inspirado em «Tempos Modernos» de Charles Chaplin. O primeiro que vi projetado na pantalha do cinema, do qual guardei religiosamente na memória, uma das mais expressivas criticas que o cinema promoveu contra uma sociedade de consumo, completamente desregulada, tal como a que hoje vivemos.
Nunca outra obra de arte, conseguiu expressar melhor o sentimento de impotência que sentimos, diante de mecanismos como naquela cena em que o protagonista foi literalmente engolido pela máquina. O tempo passou, a memória ficou marcada para sempre, com o homem moderno a ser absorvido por completo de forma paralisante, pelas engrenagens das máquinas do sistema.
O baú das memórias, liga «Tempos Modernos» de outrora, aos tempos que vivemos agora, com semelhanças que não podem ser de pura coincidência.
No início mostra ao fundo na parede, um enorme relógio, a anunciar que “ Tempo é dinheiro”, como principal lema do capitalismo. A seguir vemos em duas imagens simultâneas, de um lado uma manada de ovelhas a correr para o matadouro, e do outro um amontoado de gente desesperada a correr para a fábrica.
O filme descrevia uma sociedade industrial caracterizada na produção, e na perseguição aos operários pelas suas ideias subversivas, que denunciavam as desigualdades e a exploração dos pobres, para alimentar o conforto e o vício dos ricos. Também mostrava a vida urbana nos Estados Unidos dos anos 30, em que a depressão atingiu toda a sociedade, que levou a maior parte ao desemprego e à fome, e que em apenas três anos a produção reduziu para metade, com a falência da maioria dos estabelecimentos e mais de 10 mil bancos. Não havia dinheiro para comprar os alimentos que eram ao mesmo tempo destruídos, enquanto as pessoas passavam fome. O País contava mais de 17 milhões de desempregados. O governo resgatava os bancos, e nada fazia para resgatar os pobres da miséria, que batizaram o governo de “ Governo da Fome”.
O ponto crucial desta obra-prima, tinha os mesmos tiques que agora vivemos. Um consumo desenfreado, e a expectativa de que poderíamos possuir o maior número de géneros, como aconteceu ao protagonista e á sua namorada quando entraram pela primeira vez numa loja de brinquedos da infância feliz que não tiveram, outra de roupas e móveis que como adultos nunca terão condições de possuir. Ao casal pobre resta-lhe tal como hoje, o direito de sonhar.
É claro que há 80 anos, o “Tio-Sam” não usufruía dos privilégios com que a natureza brindou a nossa Lusitana, nem dos políticos de primeiríssima água que nos governam, e ainda da bênção Divina de D. Januário, o Bispo de cabelos pretos, sem medo do pecado da vaidade nem das tintas da “L’Oréal”, que agora liberto das “Socráticas cataratas”, até já viu a corrupção no governo nacional, com fé de um dia ver também a tranca no seu olho e a corrupção no governo do Vaticano, deixando nas mãos do Criador a conversão dos nossos sacrifícios “Troikanos”, em indulgências abonatórias para uma entrada em apoteose no Paraíso.
Nós pobres pecadores, não damos valor aos sacrifícios que esses bem-aventurados fazem por nós. Nem sabemos agradecer o solzinho e o arzinho que respiramos de borla, que nos traz tão contentes com a vida. Somos pobres e mal-agradecidos. É velos a trabalhar arduamente, e nós a protestar. Não nos passa pela cabeça, o horror que um ministro do povo e do santo evangelho, sofre em silêncio sem qualquer recompensa. Os exemplos são por demais evidentes. Vejamos ao desprezo que foram rejeitados o ministro (sombra) Mexias, o Catroga, o Jorge Coelho, o Ferreira do amaral, o Dias Loureiro, o Pina Moura, os Penedos pai e filho, e o (espirito) santo pregoeiro da moralidade Mário Soares, (coitadinho) a viver das miseras reformas, acrescidas de 330 mil euros ano pelos serviços prestados ao País, e pelas homilias que nos derretem o coração, de vê-lo sofrer sentado ao lado dos desgraçados na sopa dos pobres. Coitadinhos, todos estão a bater á porta da miséria, incluindo aquela cambada que gravita á sua volta, generosa que mesmo sem serem secretários de estado ou ministros, dão o litro (como a amarela) pelo país, e só por vergonha não estendem a mão á caridade. Vejamos o exemplo do sacrificado Vale e Azevedo, o Carlos Cruz, o Relvas que em breve receberá o título honorífico de “Honoris causa”, o Cavaco e o (rei) Gaspar, que nos brindam sempre que podem com sacrifícios purificadores a suportar carradas de, “Institutos e Fundações, de vigaristas e ladrões”, para nos aproximar dos banquetes de bem-aventuranças da eternidade.
Se é verdade que temos o futuro garantido na eternidade, que importa que as empresas fechem, que os desempregados aumentem, que os impostos cresçam, que as casas e os carros sejam penhorados, que as reformas, os ordenados e subsídios sejam ridículos. Resta-nos o solzinho, o ar fresquinho e a sorte de tal como os camelos, passar pelo buraco da agulha para alcançar uma a eternidade feliz. E nós ingratas criaturas, ainda temos a lata de protestar por coisas insignificantes, como o desemprego, o preço do pão e do leite, a falta de carcanhol para pagar o médico e os medicamentos. Eu sei que por esse mundo fora ainda há gentinha mais ingrata do que nós, como os sem vergonha dos Islandeses que levam os sacrificados ao tribunal e ao calabouço. “Que ingratidão”.
Já iniciei a purificação da caminhada para o reino dos céus. Parece que já estou a ver da bancada como quem vê a final da taça no Jamor, Deus a chamar os bem-aventurados seguidores do evangelho, de bandeirinha na lapela e a carneirada no coração. “Ó Santana; anda cá, tu que foste um exímio namoradeiro na Terra, peço-te mais uns pozinhos de sacrifício para dar umas dicas ao Gaspar, ao Félix, ao Cavaco, ao Sampaio e ao Guterres, a fim de providenciar uma noitada de amor, à Ferreira Leite, Maria de Belém, Assunção Cristas, Elena Roseta, Paula Teixeira, para recompensa-las de tão descriminadas e desprezadas que foram na Terra”. “E tu Relvas, que és o mais reguila deles todos, trata de varrer com todas as estátuas que proliferam no País, ocupadas com personagens insignificantes, como o Marquês, o Afonso Henriques, Camões, D João I, Vasco da Gama, o Soldado desconhecido, para substitui-las por Armando Vara, Oliveira e Costa, Duarte Lima, Dias Loureiro, incluindo o Vale e Azevedo no lugar do Pantera Negra na luz”. “Que o dia da liberdade seja o dia de Sócrates. “Não esqueças os Municípios, a começar por Monção, para substituir a estátua da Danaide pelos figurinos lá da terra, mesmo se arriscam de ver gaivotas e pombas (que não arrastam a asa) a voar para lhe cagar em cima”. “Palavra do Senhor”!
Enquanto se mobiliza a cristandade para a cruzada da conversão, demos graças ao Criador de nos possibilitar o pequeno-almoço a ver televisão, e deliciar-se com o leite das mamas (de três litros) das atrizes das telenovelas, e o jantar a saborear as suculentas beiças da Manuela, que parecem bifes do cachaço.
Caiu o pano em “Tempos Modernos”. “Modernos Tempos” seguem dentro de momentos para anunciar o F I M. E vós? Nobre povo, levantai-vos para aplaudi-los de pé.
Eu nunca mais me levantarei, mas continuarei tal como o poeta, a “Perguntar ao vento que passa / notícias do meu País / o vento cala a desgraça / O vento nada me diz”.
“Mesmo na noite mais triste / em tempo de servidão / há sempre alguém que resiste / há sempre alguém que diz não”.

1 comentário:

Unknown disse...

Um mundo amordaçado, um país de tristes figuras um foturo incerto...
Mais tristes figuras ficaram por referir, mas valeu a intenção...