sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Ladrões de caneta em punho

16/11/2012
Mais do que as palavras, as recordações são como as cerejas: atrás de umas vêm as outras, em cadeia infinita de lembranças, que só acabam quando a gente detentora de memória fica submetida ao silêncio do esquecimento. Recordo-me dos tempos vividos na cidade luz de Paris, e do simpático jovem casal de assaltantes do filme «Bonnie & Clyde», um verdadeiro terror para os bancos, que naquele tempo assaltavam de metralhadora em punho.
Os jovens, logo adotaram a célebre frase do filme mais pronunciada no Mundo, quando uma pacata senhora perguntou ao jovem casal desconhecido: “que fazem na vida?” “Somos ladrões de bancos”!
 Enquanto o filme fazia furor no cinema, nós vivíamos na rua, no meio de outros assaltantes de carne-e-osso, não menos mediáticos, como o Albert Spaggiari, que no fim-de-semana prolongado de 17 de julho de 76, com os bancos encerrados, teve necessidade de levantar uns trocos, decidiu entrar no banco pelas galerias dos esgotos, acompanhado de amigos que, desde 7 de Maio tinham perfurado um túnel de 8 metros, com acesso á sala dos cofres, para faturar os serviços da empreitada que, na altura custou à “Société Générale” 50 milhões de francos, e o arrombamento de 371 cofres, sobrando tempo para fazer um piquenique com paté e vinho, e para deixar escrito na parede, a mensagem que mais tarde deu origem ao filme, «sem armas, sem odio nem violência».
O mais mediático de todos, de quem se sentia a presença a qualquer momento, era o Jaques Mesrine, que na sexta-feira 2 de Novembro de 79 às 15h15, (cinco minutos depois de eu ter passado no local), o autorradio noticiava que tinha caído numa emboscada nas portas de Clignancourt, (Paris) denunciado pelo jornalista Tiller, onde foi abatido pela polícia, que o esperava dissimulada detrás do toldo de um camião ali estacionado. Regressei ao local, e vi que no BMW 528i verde metalizado de matrícula 83CSG75 estava o Mesrine e a namorada, ele morto com 18 balas, ela ferida num olho. Mais tarde deu origem aos filmes, «Caça ao homem» e «Inspector la Bavure»
     Terminava assim, a era dos ladrões, “com eles no sítio”, que até pareciam gente honesta comparados com esta escumalha, rebotalho de escroques badalhocos, “sem nada no sítio”, cobardes, nojentos sem, honra e sem metralhadora, mas de caneta em punho a roubar quem lhes confiou a chave da casa.
Agora que a nossa democracia se transformou numa “mafiocracia”,os badalhocos já atuam de cara destapada, sem receio de ser abatidos ou presos, porque sabem que as suas martirizadas vítimas, estão proibidas de matar, prender, julgar, e mesmo de se queixar.
 Para melhor entender a podridão do sistema, imaginemos um país como o nosso, onde não é possível viver com tanta gatunagem, organizada por tríades de “Fantoches, Quadrilhas e Troikas” com tarefas pré-definidas. Nós, os Fantoches, atuamos na fantochada de legitimar Governos visíveis da causa pública, nomeados por Governos invisíveis da coisa privada. A quadrilha, é formada pelos donos do capital, que utilizam os seus legisladores espalhados pelos grandes escritórios de advogados, pelo Parlamento, e pelo Governo, este transformado num pau-mandado para executar o caderno de encargos que lhe foi programado. Porém nada seria possível sem a intervenção da “Troika” partidária, “PSD/CDS/PS” que atuam como verdadeiros atores no teatro eleitoral, para arrebanhar e desviar as atenções da manada e, mante-la distraída a discutir assuntos importantíssimos como o futebol, a Gabriela, o divorcio da Luciana, enquanto eles branqueiam “metais, capitais, jornais e telejornais”, e alisam o caminho do «Freeport, Submarinos, BPN/SLN», para que não tenham percalços na viagem até à prateleira do, “Fax de Macau, Bragaparques, Contentores de Alcântara, Banco Insular, Face Oculta, Apito Dourado, Operação Furacão, Portucale, Monte Branco, Expo, Ponte Vasco da Gama, e (PAF) Por-Aí-Fora. 
A “Troika” estrangeira, que ao contrario do Spaggiari, prefere entrar pela passadeira vermelha diplomática, a tranquilizar-nos que isto não é um assalto, mas sim um pacote, um ajuste, uma ajuda, ou um resgate, e sem armas, sem odio e sem violência, leva subsídios, salários, a EDP, ANA,TAP, Águas de Portugal, RTP, enquanto nós os “fantoches”, continuamos a pendurar nas galerias do sistema, os bailarinos de turno para a dança das cadeiras do vaivém, entre o Estado e as Empresas, que os acolhem com fervoroso reconhecimento. Um jornal, localizou 40 (dançantes) ex-ministros e ex-secretários de estado com notável jogo de anca de verdadeiros reis da pista. Só a Caixa tinha acolhido 23 ex-governantes. É sabido que as grandes empresas como Lusoponte, a Mota-Engil, a Iberdrola, e a EDP têm o faro apurado para descobrir grandes valores que a nós nos tinham passado despercebidos, tal como os ex-ministros das obras públicas, Ferreira do Amaral, Jorge Coelho, e das Finanças, Pina Moura, Catroga, verdadeiros artistas, como tantos outros bailarinos de serviço, agora a exibir o jogo de anca nas pistas da, Melo / Quimigal / Cimpor / Camargo / Endesa / Portgás / Galp / Sonae / Brisa / Eface / Sapec / BCP / BPN / BPP / BES / ANA / TAP / CTT / PT / Ongoing / Santander / Banif / BIC / CGD / BP / CMVM: e fundações (Gulbenkian / CCB / Arpad Szenes-VS / Serralves / Casa da Musica / Oriente / Luso-americana / Champalimaud / MS-JM), “Misericórdias & Santanas”. E, eu a pensar que esta gente até de graça ficava cara.
Os motores de busca de cabeças políticas coroadas com assento no “governo visível” da confiança do “governo invisível”, levar-nos-ia por tortuosos corredores. Ainda á dias, o “governo visível” encomendou à consultora “Ernest & Young”, uma auditoria a “36 Parcerias-Publico-Privadas e 24 conceções”, esquecendo-se que a consultora, também trabalha para os grupos interessados no assunto.
O caso BPN, mostrou claramente, que os grandes assaltos já não se fazem de metralhadora em punho. Só agora começo a perceber o que queria dizer o refugiado Guterres, “isto é um pântano”, o fugitivo Barroso, “isto está de tanga”, o empresário Henrique Neto, ”isto está entregue à mafia”, e o desabafo do Juiz jubilado do Tribunal de Contas Carlos Moreno, “As Parcerias-Publico-Privadas são chocantes”, e ainda o repúdio do professor do IST José Manuel Viegas, “os contratos das Parcerias-Publico-Privadas foram um arranjinho”. Mas nada disto faz demover a Procuradora-adjunta Cândida de Almeida que afirma: “Portugal não é um País corrupto”.
Restam-nos então, duas alternativas: de preferência morrer com “eles” no sítio, não passar fome, não perder a dignidade, e não permitir ser humilhado por meia dúzia de frutas podres, germinadas na pantanosa sementeira dos “Jotinhas” que, em vez de entrar na vida ativa pela porta empresarial, preferem entrar pela porta dos tachos, da farra e do arraial, com objetivo de alcançar o lugar no pódio dos caciques, para passar o resto da vida pendurado no erário público, a cacicar a Distrital, a Concelhia, a Local, e a envergonhar a Pátria, como míseros coveiros que vão a enterrar Portugal.
“Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”. A roda da vida, voltara a marcar a hora da metralhadora em punho, para resgatar as pessoas e os bens que lhe foram roubados. A pacata senhora voltará a perguntar: “que fazem na vida?” “Somos ladrões de bancos”!                                                    
Américo Pinto.                                   

1 comentário:

Unknown disse...

Boas encontrei por acaso o texto no jornal "A Terra Tinhota" mero acaso pois só de tempos a tempos apnho o dito esquecido na mesa do restaurante, (tenho procurado principalmente as histórias sobre Monção,)como só me apetecia procorar onde rubricar decidi saber um pouco mais sobre o autor.
(fico como seguidor à espera de mais revolta)