domingo, 17 de novembro de 2013

A missa do galo

 
          16/11/2013
          Talvez, que as memorias representem a capacidade de fantasiar o passado, recordando a nostalgia da infância, onde o ponto de partida pode ser um elemento tão simples como um odor, um som oriundo de um tempo perdido
          Outra coisa é sonhar de olhos abertos com esta idílica terra de Deu-la-Deu e recordar com saudade o Didon (amigo do peito) e seu receituário mágico, que fez com que o burro da Sagrada família colabora-se com mais entusiasmo na encenação do Presépio vivo da missa do galo.
          O Didon, um veterano já com a dúzia de primaveras, nunca tinha assistido a nenhuma missa do galo, pois quando tinha desejos de participar faltava-lhe a idade, e quando sobrevieram os anos, abalara-se-lhe a fé. Naquela idade em que andamos zangados com tudo, ele considerava uma alarvidade importunar a malta com missas fora de horas.
          Decorriam os anos do Twist, era véspera da missa do galo e dia de confesso para os da primeira comunhão do ano anterior. Na casa-da-mesa, os mais velhos faziam o “casting” para seleção dos figurantes à representação do povo de Belém. Levavam vantagem os candidatos com artroses agudas, que garantissem qualquer falso movimento durante a encenação. O Chanquinhas e sua companheira, foram selecionados por possuírem os requisitos exigidos pelo júri.
          Já o sol se escondia detrás do sino grande da torre, a fila à porta da Sacristia crescia como leite-ao-lume. Depois do tilintar da aldraba, abriu-se a porta, o Didon saía do confessionário com cara de poucos amigos. O Zezinho (de confiança duvidosa) já tinha confidenciado ao padre António, uma relação detalhada dos nossos pecados, a começar pelo “sacrilégio” de numa noite de temporal, termos escondido a mota do bom pastor no meio do campo de milho, enquanto o bem-aventurado dava o seu melhor para consolar a inconsolável (fresquinha) jovem viúva, que andava triste e desolada pelo desaparecimento do seu ente querido, que Deus chamou a si, para dar mais conforto e facilidade ao seu representante na terra.
          Quando tentei fugir, já o padre António me tinha enganchado a bengala no pescoço, para sentenciar uma penitência do tamanho da longa lista de pecados a confessar, que vinha em crescendo desde o confesso do ano anterior.
          O Padre esqueceu-se das recomendações do Chapa-lisa: as grandes dívidas dificilmente serão saldadas; “se te devo um vintém tenho um problema, se te devo mil o problema é teu”. Assim nascem os caloteiros espirituais.
          Chegou o tão desejado dia. Três horas de Igreja, a não contar com os intervalos, as cantorias e um auto de Natal com presépio vivo, bicharada, pastores, anjos de asas (com penas e tudo) a tocar trombeta anunciando a chegada do Senhor. O burro, conhecido por Janitas, era famoso na paróquia pela teimosia e mau feitio. No dia da festa, apresentou-se lindo e asseado, de clina escovada, engalanado com dois rabinhos de raposa pendurados nas orelhas, arreado com albarda de pele genuína, na qual se sentava a Virgem Maria.
           Tive a nobreza de representar Pedro, o pescador. O Zezinho representava José, o carpinteiro com o Janitas à corda, o Didon, representava Baltazar, o rei mago que estrategicamente se colocou atrás do Burro.
           A dada altura, tal como combinado, o Didon saca o receituário composto de um papel de cigarro que embrulhava alguns gramas de pimenta negra, capaz de por um moribundo a correr a meia maratona, e delicadamente com a ajuda do dedo indicador colocou em parte anatómica do Burro, ainda hoje um mistério por desvendar.
          O Janitas deu logo sinais de vida, e começou a lamber a nuca ao Zezinho. Perante tal acontecimento, os fiéis murmuravam: Milagre, Milagre. Desconfiado das intenções eróticas do Janitas, o Zezinho chamou a mamã que logo correu em socorro do seu rebento para por cobro á química que nascia entre o Janitas e José, o carpinteiro.
            Baltazar, o Rei Mago perante o desenrolar da situação, afastou-se sorrateiramente do trono, no caso de o Janitas necessitar de mais largueza. Ou não escrevesse Deus direitinho por linhas arrevesadas, porque exatamente no momento em que o Padre sobe ao púlpito e começa a debitar o sermão aos fiéis, o burro com o susto, deu um salto e atira a Virgem Maria para os braços do Anjo Gabriel, o coelho trazido pelos pastorinhos galgou Altar-mor acima, derrubando tudo na passagem, incluindo junquilhos e castiçais.
           O Padre vigiava do canto do olho, e subia os decibéis da pregação. O Janitas volta à carga, e dá um coice no poleiro do galo, este liberto das contingências, faz escala na cabeça do Chanquinhas antes de aterrar em voo copulado no Harém das galinhas. Perante a passividade dos fiéis presentes, o Pescador e o Rei Mago, de cajado em riste avançaram para por ordem no Presépio, que andava todo à tapona incluindo a Virgem Maria e o Menino Jesus.
           Por um momento, senti-me vingado do poder materno, que me obrigava a dar o meu melhor em tais encenações. O Padre no púlpito parecia um disco riscado. “Deus é grande, meus irmãos. Deus é grande”.
           Ah mundo-sagrado: quem nos dera ver os Janitas d’agora a suar as estopinhas como o Janitas da missa do galo d’outrora.
          Deus é grande, todo-poderoso, não vai abandonar-nos no meio desta manada, antes de sussurrar-nos ao ouvido o segredo do receituário mágico de pimenta negra, e a mágica pontaria do indicador, para que os Janitas colaborem com mais entusiasmo no progresso desta idílica terra de Deu-la-Deu.
           A fantasia e o sonho do passado, transformaram-se no pesadelo do futuro, sem horizonte e sem espectativas, enquanto os fiéis defensores destas matilhas se comportarem como o, ” corno que sabe que é mas não quer saber, e agradece a quem los faz crescer.
          Hoje talvez achasse piada àqueles bosquejos etnográficos de religiosidade popular. Mas prefiro pensar que assisti a um dos mais belos «gag» digno do melhor Fellini, com esta obra-prima, A odisseia dos burros” tão famosos a relinchar e a coicear, e tão desastrosos a decidir e a governar. “Arre…..?”.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Excursões e caridades Xuxalistas


16/09/2013

Chegado o Outono da vida, vencida a meta das oitenta primaveras, o Timanel é um luxo de mecânico à moda antiga. A chave de fendas e o ouvido basta-lhe para transformar os carburadores em verdadeiras sinfonias. Tive a sorte de lhe confiar os cuidados do meu popó, fiel companheiro já com a idade da tropa, e ainda está aí para as curvas, pronto para o que der-e-vier. Nunca sai da oficina sem as recomendações do Mestre. “A ver se te portas como deve ser”.
Deus quis que a companheira de sempre o abandona-se antes do fim da caminhada, precisamente na mesma altura que o mesmo Deus lhe devolveu o filho (depois de este ter saído de casa para constituir família), agora acompanhado da mulher e três filhos, sem emprego, sem casa e sem carro, que entretanto lhe foram penhorados para financiar mais uns dias de farra aos “papa-galhetas”, cuja forma de vida sempre foi de viver pendurados no salario de quem trabalha. O Timanel recebeu filho, nora e netos de braços abertos, com força e coragem de quem ainda é homem de sobra para as encomendas.
Nesta difícil fase da vida, a fim de atenuar-lhe tanto sofrimento, convidamos o Timanel para uma excursão privada “a pagar”, (não daquelas à custa da comunidade, com cama e mesa para os que tem hábitos de viver acima das “nossas” possibilidades), mas sim das de açafate com bifanas, bolinhos de bacalhau, garrafão da pipa do meio, sem esquecer o delicioso cabrito á “Foda de Monção”, deixando o sucessor “Cordeiro de Monção” para os cordeirinhos recordarem as deliciosas “Fodas” que tem ingerido nas deliciosas farras e abastadas excursões.
A coisa começou a desafinar quando uma excursionista lhe perguntou por que não aproveitou a excursão à “borla” a que tinha direito. O homem levantou-se do banco, deu três voltas á casqueta, e sem os requintes de linguagem das novas pedagogias com quem anda de relações cortadas, chamou a senhora de Burra com todas as letras, antes de puxar da carteira com a forma da nádega, para começar a debitar: “Oh mulher; Você pensa que me vendo por um copo de vinho para ouvir comícios de lavagens cerebrais até aos próximos actos eleitorais?” “Subsidiam-se passeios seniores para quem vota, e excluem-se passeios de estudo júnior para quem não vota. Para preparar as próximas gerações limitasse os passeios de estudo entre Cerveira e os Anhões, mas navega-se pelo Rio Douro para preparar as próximas eleições. O Xuxalismo só acabará quando o dinheiro do vizinho acabar”.“Como tudo isto me mete nojo”.
Ainda o Bentinho ia a meio da quadra, já o Timanel lhe tinha engrunhado os foles da concertina para continuar a sua indignação. “Com a cegueira que anda à solta, esta Tropa-fandanga não olha a meios para atingir os fins. Conseguirá lotação esgotada se também organizar uma excursão para levar os ceguinhos ao Cine(ma) Teatro João Verde agora pintadinho de novo, com os holofotes focados em políticos: que tem dinheiro para abrir cinemas quando o resto do País os fecha: que sustenta um ginásio desastroso para contribuintes e empresários privados do sector, um verdadeiro ninho de Jobs para Boys Xuxalistas: que tem dinheiro para comprar clubes de futebol falidos: mas que lhe falta vontade e dinheiro para gastar com os “parolos” das Aldeias que vivem na escuridão com a iluminação pública apagada. Não pode haver vícios onde não há dinheiro. É ridículo e desastroso poupar no que é necessário para gastar com fanfarronices. É ainda mais ridículo e desastrosa a passividade das Juntas de Freguesia com o poder central que faz o que quer, e dá a esmola quando bem lhe apetece. O que é isto? Parece uma Republica das Bananas que sobrevive á custa da ignorância dos Bananas da Republica, catalogados de fanfarrões e atrasados, que temos medo de perder o medo, que somos desorganizados e conhecidos pelo resto do mundo de “pedintes a viver na barraca, com antena parabólica no telhado, plasma pendurado na parede, três telemóveis no bolso, o prato vazio encima da mesa, e um submarino estacionado à porta”.
Depois do desabafo, o Timanel limpou a testa na manga da camisa antes de afiançar pelos ossos da falecida irmã, “que em tempos idos, aviou seis numa tarde sem tirar o bivaque de magala”. Ainda hoje é famoso por ter a mão mais diligente dos arredores no que diz respeito a traseiros femininos.
Em maior forma que o nariz de Durão Barroso, começou a atirar-se (salvo seja) às viúvas e aos políticos, até cheguei a pensar que não iriamos regressar vivos. E para vincular o carinho que “elas” tem por nós, contou a história de uma senhora que estava em casa a descascar batatas, quando a vizinha lhe deu a notícia que o marido tinha morrido atropelado, a qual respondeu: “bom, já não é preciso descascar mais batatas: é um prato a menos e uma cruz a mais”. E, para encaixilhar a classe política que temos, contou que “a Câmara abriu o concurso de uma obra para a qual concorreram o Sr. António, o Sr. Pedro e o Sr. João. O Sr. António pediu 300 mil €, 100 para o material, 100 para o trabalho e 100 para o lucro e garantias. O Sr. Pedro pediu 600 mil €, 200 para o material, 200 para o trabalho e 200 para lucro e garantias. Os dois concorrentes foram excluídos. O Sr. João pediu 900 mil €, 300 para mim, 300 para ti, e 300 para o António fazer a obra. Ganhou o concurso!
Valeu-nos a hora do almoço. Depois de um assalto ao açafate e ao garrafão, fomos visitar o Cristo Rei. Quando o nosso guia, (sem lavagens cerebrais) nos explicava a história, que a ideia do santuário foi trazida em 1934 pelo Cardeal Cerejeira depois de uma visita ao monumento do alto do Corcovado no Rio de Janeiro, e que o terreno foi adquirido em 1941 e colocada a primeira pedra em 1950, tendo sido inaugurado em 1959 para agradecer ao “Altíssimo” de nos ter livrado da II Guerra Mundial, e que foram gastas 40.000 toneladas de betão para erigir a estátua da autoria do Mestre, Francisco Franco; O Ti-Manel desatou a saltar aos gritos. “Milagre, Milagre, o Cristo está a voar para norte”, quando consegui convence-lo que eram as nuvens tocadas pelo vento que voavam para sul, o céu limpou e ficamos na dúvida se foi mesmo milagre do Cristo ou magia do garrafão.
Reconheço o desajeitado que sou para meter cunhas. Porem, em sacrifício pela comunidade, peço ao Sr. Presidente da Câmara que aproveite os dotes e a sabedoria do Timanel, para dar uma afinação na máquina que anda pelas ruas da amargura, e assim livrar-nos do desastre há muito anunciado.
          No meu modesto entender, é urgente dar uma afinada na direção da máquina, que anda sem rumo, com folgas, desvios à direita e à esquerda, quando não encrava e fica a andar á roda sem sair do sítio. O carburador deveria gastar menos, acelerar e carburar mais. Os travões sem pastilhas já só travam com cunhas, por muito menos, muita boa gente já foi parar aos anjinhos. O cárter baba-se todo, deixa manchas que provocam derrapagens e desastres de morte certa. A suspensão, não aguenta mais buracos nas estradas e nos orçamentos que mais parecem um queijo Suíço. As óticas, coitadinhas parecem a lamparina do Senhor, a anunciar-nos cada vez mais túnel e cada vez menos luz. A caixa de velocidades parece a cantiga dos Canários a meter a primeira e a segunda no popó da namorada, de resto já só engata de marcha a traz. Os escapes ruidosos, barulhentos, poluidores, parecem canos de esgotos. As válvulas confundem-se com a dança de sapateado do “Fred Astaire e Eleonor Powell no Broadway” com um vasqueiro insuportável. A rádio parece uma grafonola com o disco riscado a cantar sempre a mesma música. Porem, nem tudo está perdido, estão de parabéns o bate-chapa e o pintor, pelo brilho dos cromados que continuam a ofuscar a populaça radiante de ver os “fantoches” pendurados a baloiçar no retrovisor.
         Senhor Presidente: Vá á sua vidinha, e não queira em tempos de luto pesado, carregar os remorsos de ter confiado as afinações dos travões em borguistas festivaleiros, e em guias de excursões. Sabe que na primeira curva ficamos todos (incluindo o Sr.) com a cara estampada na parede.
Em jeito de confidência, o Timanel aconselhou-me a ficar fora da máquina, porque já não tem a certeza que as afinações cheguem a tempo de evitar o desastre.
A excursão dos Xuxalistas, terminou viagem a mamar e a “ Xuxar na Xuxa do povo”. A excursão do Povo que não Xuxa na Xuxa e dá a Xuxar aos Xuxalistas, terminou num arraial Minhoto a dançar a música do Quim Barreiros e “a mamar na teta da cabritinha / mamo nela quando quero / porque a cabritinha é minha.” Et voilà.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Os filhos da pauta

01/07/2013
Na vertente musical política, 90% da “música” propagada pelo País é obra de filhos da pauta que regressam ao coreto passado um curto período de nojo, para dar baile ao povo amnésico que quer a repetição dos concertos de triste memória para quem não sofre desta doença crónico-degenerativa.
Fui para longe da zona de conforto, por lá andei, voltei tal como fui, para encontrar o povo tal-qual o deixei. Quando fui, jazíamos aos pés da Virgem, agora que voltei, jazemos aos pés de Ronaldo e do Zé Castelo Branco.
Claramente mais futebolizados, num filosofismo capaz de traduzir “J’accuse” de Zola por Jacuzzi das muchachas de Berlusconi, preparativos por preservativos, estofado por estufado, capaz de vender a baca para comprar um arboredo na Serra da Peneda, e por-aí-fora, até dar à língua de Camões o destino da língua de vaca muito apreciada com ervilhas e arroz-carolino ao forno.
Em futebolês deitamos contas à vida. “O famigerado incendio devorou quarenta campos de futebol”. “O IRS aumentou dez estádios do Euro 2004”. “ Oxalá que a telenovela seja fixe e que o central da minha equipe tenha atitude”: “Que tenha atitude”! A desgraça do desemprego e roubalheira governamental são niquices de somenos importância. Ficamos contentes de ver o CR7 faturar 40 mil euros à jorna (8 mil contos dia). Curvamo-nos e ajoelhamos quando o nosso guia espiritual sobe ao púlpito para nos lembrar as boas práticas: “ajuda o teu próximo como a ti mesmo”, sem nos questionar qual a contribuição em IRS que paga o mensageiro de tão nobre lição de moral. Não investigamos nada, não fundamos nada, não criamos escolas nem hospitais, apenas permitimos que fechem os já criados. Servimos apenas de sustento das aparelhagens do poder, com sufocantes contribuições e levianos votos de alegrias sem trabalho.
Sofremos com a ausência dos filhos da pauta. Queremos ver o Guterres na presidência da Fundação Calouste Gulbenkian, o Barroso na presidência da República, o Vítor Constâncio (vitinho) na presidência de uma qualquer fundação talhada à altura do valioso contributo que deu para delapidação do BPN. “O bom filho à casa do pai voltara”. O último filho da pauta, já voltou embebecido nos requintados perfumes Parisienses, para nos ambientar o pestilento cheiro de destruição que deixou no país.
Somos gente de brandos costumes, obedientes e bem comportada. ”Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra, e ao que te tira a capa, não lhe negues a túnica”, nem a reforma, nem o salario, nem o emprego nem a tua felicidade. Mesmo se vives na miséria, foge da companhia de quem prefere morrer de pé para defender o que é seu, que não dá a outra face, e cumpre religiosamente pecadora regra. ”Olho por olho, dente por dente”.
Se já perdeste a face oferece também “les fesses”, para esquecer que o filho da pauta antes de refugiar-se na Cidade-luz, prometeu 150 mil empregos e deixou o pior desemprego dos últimos 80 anos com mais de 700 mil desempregados, que fechou milhares de escolas, maternidades e centros de Saúde, que deixou o País no pior crescimento económico dos últimos 90 anos com a pior divida publica dos últimos 160 e a pior divida externa dos últimos 120, que em 6 anos aumentou a divida de 80 para 160 mil milhões de euros, que provocou a pior vaga de emigração desde o seculo XIX,  que aumentou o IVA dos pobres para 23% e que baixou o IVA dos ricos (do golfe) para 6%.
Sem face, sem túnica e sem dignidade, facilmente esquecerás que viste o filho da pauta regressar ao volante de um modesto automóvel alugado, para não dar nas vistas com o mercedes S 550 CDI, de 95 mil euros (19 mil contos) que comprou passados dois meses depois de sair do governo sem precisar do empréstimo que fez na CGD para “estudar” em Paris, onde mora modestamente no modesto bairro 16, com rendas de habitação que andam nos 7 mil euros mensais.
Perdoa, não sofras mais, esquece que o “artista” também foi Secretario de Estado e Ministro do Ambiente, responsável pelo lançamento do projeto do aterro da Cova da Beira, onde foi investigado por suspeitas de favorecimento ao seu antigo professor António Morais, (o tal) que mais tarde lhe ofereceu as notas ao domingo para concluir a licenciatura de engenharia civil.
A raiva é má conselheira. Se persistires em recordar que na investigação ao licenciamento do Freeport, varias testemunhas alegaram em tribunal que o filho da pauta teria exigido 2,5 milhões de euros (500 mil contos) para viabilizar o empreendimento, e que nas escutas ao amigo Armando Vara foi apanhado com indícios de um plano de controlo da comunicação social onde um procurador tentou acusa-lo e o “outro” travou a investigação.
Sabes que a inveja matou Caim. Se já moras na prateleira dos desempregados, sem subsídio e sem futuro, não invejes o emprego do filho da pauta na Presidência do conselho consultivo para a América Latina, de uma Farmacêutica que no seu governo se fartou de faturar aos hospitais públicos por ajuste direto, que acabou por desajustar a tua carteira
“Quem for inocente que atire a primeira pedra”. Não vem mal ao mundo, se o filho da pauta tem um fraquinho por restaurantes de luxo e por vinhos a 200 euros-garrafa, por modestas mesadas de 15 mil euros, e por apartamentos em prédios de referência na capital, que até consegue comprar por metade do preço do vizinho do lado, no mesmo prédio e no mesmo local.
Com um currículo assim, qualquer galo de campo estaria fechado detrás da rede do galinheiro, em vez de andar empoleirado à solta a dar lições de moral.
Faz lembrar-me a anedota da mãe que mandou o puto à cozinha para trazer duas cervejas frescas: o puto abriu a porta e gritou, “Mãe há só uma”. Pois é: mãe há só uma, mas com a Ex Procuradora Adjunta o filho de pauta tinha mais mães que o puto cervejas na geladeira.
Assim se governou Portugal no passado, assim se governa no presente, e assim se governará no futuro com uma Troika de filhos da pauta que nunca fizeram nada na vida, a não ser de seguir a voz e o rasto do dono que a seu tempo se encargará de os guindar ao poder.
Não será demais recordar as recomendações de, “Thomas Jefferson”, de “Almeida Garrett”, e do “Ti-Quim”.
“Acredito que as instituições bancarias são mais perigosas para a nossa liberdade do que exércitos prontos para combater. Se o povo alguma vez permitir que bancos controlem a sua moeda, os bancos e todas as instituições em torno dos bancos despojarão o povo de toda a posse, primeiro pela inflação, depois pela recessão, até ao dia em que os seus filhos vão acordar sem casa e sem tecto”. (Jefferson)
“Reduzi tudo a cifras. Comprai, vendei, agiotai. No fim disto tudo o que lucrou a espécie humana? E eu pergunto aos economistas-políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à penúria absoluta, para produzir um rico”. (Garrett)
O Ti-Quim, meu ídolo, era analfabeto redondo, inteligente, homem de poderosíssimas convicções e senhor do seu nariz. Lembra-me de o ouvir dizer. “ Suportar governantes com menos de 50 anos e sem 20 anos de experiencia empresarial, é como mijar contra o vento. Pensam que sabem governar, mas depois na prática a teoria é outra” (Ti-Quim)
“Vós alfabetizados, sabeis ler para que possam dizer-vos quem deveis amar, a quem deveis obedecer, quem deveis odiar, e o que deveis pensar”. ( Ti-Quim)
O Ti-Quim viveu e morreu a justificar sempre aquilo que comeu. Se cá volta-se diria: “ Governantes que não encontram o túnel, não podem prometer ao povo que a travessia esta a chegar ao fim. Sem a luz do fim do túnel, vivereis na escuridão porque sois uma cambada de nabos manipulada por uma cambada de filhos da p.…”.

terça-feira, 30 de abril de 2013

E Deus fica calado

01/05/2013
Batismo aos vinte dias, primeira comunhão aos seis anos (sem saber ler nem escrever), comunhão solene aos oito, quarta classe aos 10, crisma aos 12, altura em que a avó foi pedir a bênção do Pastor para que o neto fosse admitido no rebanho e seguisse as suas pisadas. O Pastor recusou o pedido, destruindo assim o desejo da avó, por causa do comportamento do pai do neto, que era um apreciador assíduo do néctar das vinhas do Senhor, e (pecador) leitor reincidente do jornal (pouco recomendado) Republica, ao contrário do (recomendado) jornalzinho paroquial que o pai do neto usava para embrulho de sardinhas e demais necessidades quotidianas. Triste, desiludido, o neto questionou a avó: E Deus fica calado?
O tempo passou, o neto nunca entendeu o comportamento do Pastor. Se é normal os progenitores responderem pelos atos dos filhos menores, o contrario causa alguma estranheza. Terá o Pastor sido iluminado numa antevisão divina, e viu por antecipação que o puto dificilmente iria passar a vida a jejuar do fruto proibido, e que seria um sério candidato à expulsão do jardim do Éden!
A ser verdade que Deus nos criou á sua imagem e semelhança, o neto não contesta a bondade de tão nobre iniciativa, e até compreende que no meio de uma absoluta solidão, sem corte celestial, sem ministros e conselheiros para conferenciar e tirar duvidas, e depois de uma semana tão cansativa para criar a Luz, o Céu, a Terra, o Sol, Peixinhos e Passarinhos, só ao sexto dia antes do merecido descanso semanal, é que lhe foi possível tratar da criação de criaturas com este triste resultado. Desde então, sempre em constante degradação até aos nossos dias, a começar pela primeira parelha, que foi expulsa do jardim do Éden por comportamento indecente. Indecente continuou o comportamento do primogénito Caim que não encontrou melhor passatempo senão o de matar o irmão Abel.
Depois foi aquilo que se viu. As bebedeiras de Noé, das quais até hoje nada se sabe se eram de tinto ou branco, para não falar das maldades que o filho lhe fez quando o encontrou embriagado na tenda, em pelota tal como o Pai o mandou ao mundo. Seguiu-se o comportamento desviante de Abraão com a criada Hagar, (cujos usos e costumes preservamos religiosamente ate aos nossos dias) e os parricídios atos de sacrificar o filho Isaque, não fosse o Anjo a salvar-lhe a vida e ordenar que em vez do filho sacrificasse uma ovelha (inocente) que por ali andava perdida. Porem, ninguém pode culpar o Criador de não tentar ajudar-nos. Era vê-lo jovem, todo-poderoso com Moisés a separar as águas do mar vermelho, a abrir-nos caminho para fugir do inimigo. Depois de salvos, a ordenar que as águas se juntassem e engolissem os perseguidores. Pobres e mal-agradecidos, aproveitamos a ida de Moisés ao monte Sinai conferenciar com o Pai, para iniciarmos nova conspiração e a pouca vergonha de adorar a imagem de um Touro em detrimento do Criador, que provocou a cólera de Moisés ao partir as tábuas das Leis, antes de serem promulgadas. Passados mil e quinhentos anos, Deus ainda tentou delegar poderes no filho para nos salvar. Recebeu em recompensa o filho pregado na cruz.
Não é de admirar que a idade e o nosso miserável comportamento, trazem Deus zangado e desiludido. Mas caramba, somos fruto da sua invenção, e não é justo abandonar-nos à deriva, a pagar o justo pelo pecador no meio desta ladroagem de carteiristas e vigaristas capazes de tudo, até de ensopar o pão e regar o bacalhau do Natal com o azeite roubado da lamparina do Senhor. Compreendo que (até) somos do piorio que se pôde inventar, e que no último século destruímos mais, de que nos restantes cinco mil milhões de anos do seu Reinado na Terra.
Que diabo, o neto não pede ao Criador para se manifestar com milagres como aqueles 35 à moda antiga do Novo Testamento, que agora tanto jeito davam. Tal como o de transformar água em vinho, (que anda pelas horas da morte), ou o de matar a fome a cinco mil famintos com 5 peixes e 2 pães, e ainda o de pescar 153 grades de peixe sem se molhar, ou de pescar peixes que já trazem moedas (convertidas) na boca, ou então já que ressuscitou Lazaro dava-nos um jeito do caraças se nos ressuscitasse meia dúzia de Salazares.
Nem sequer se atreve a criticar o Criador, por não ter afastado com um sopro o tsunami da Indonésia de 2004 que levou 300 mil inocentes, ou por não ter colocado o dedo encima das placas sísmicas do terramoto do (pobre) Haiti que levou mais 100 mil, e ainda por não ter desviado os aviões das torres gémeas que lhe roubaram mais 30 mil filhos. Se a idade já não lhe permite grandes Milagres, deveria então manifestar-se com um daqueles mais mediáticos que costumam estar na área de intervenção das “Senhoras” de Fátima e Lurdes. Como por exemplo, o Milagre de desviar os donativos universais do Óbolo de são Pedro, e entrega-lo aos irmãos do Zimbabué que sobrevivem com menos 0,50 cêntimos por dia, para liberta-los das labaredas Infernais onde estão a penar alguns dos 40 anos de esperança de vida, para que tenham uma vaga ideia das regalias Celestiais que levam os 921 irmãos de Francisco que vivem no Vaticano em representação do Criador.
Agora que a avó do neto faz parte do Além, poderá o Altíssimo confirmar a veracidade das suas afirmações, quando ela dizia que Deus está em toda a parte, e sabe tudo o que se passa. Se assim é, devera certamente o Criador ter alguma opinião do mundo que criou, mesmo se ainda não se dignou prenunciar-se. Pois algo terá a ver com aquecimento global, e com as revoluções do Norte de África, mesmo se acontecem em território da jurisdição Islâmica em que ditaduras matavam o povo, agora substituídas por tiranias religiosas que já entram a matar, legitimadas democraticamente pelos carrascos da democracia, que nos permitirão de julgar as futuras atrocidades com outra benevolência, na paz do Senhor.
Os sinais que chegam à terra são pouco animadores. Parecem querer dizer-nos que o nosso Deus é de uma direita fora de uso e em vias de extinção, que deixa privatizar tudo que lhe passa pela frente, para colocar os bens nas mãos dos mais poderosos, e coabita linda e Divinamente no meio deles, cada vez mais ricos a quem tudo sobra, e cada vez mais pobres a morrer de fome, e continuamos sem notícias do Criador sobre as calamidades, atrocidades e injustiças quotidianas no Mundo que criou.
Por cá, vemos os Ministros aumentar os salários deles e a diminuir os nossos, vemos o da Solidariedade que depressa encostou a scooter de transporte pobre, para ir visitar os pobres aos Bancos Alimentares Contra a Fome em transporte de rico, que também faz parte de um Governo que se governa a si próprio, assim que à sua família e mais um círculo restrito de amigos, com Ministros a expulsar o povo que deveria proteger, e com o Primeiro-ministro a passar as guias de marcha aos excluídos da mesa do orçamento, apontando o caminho onde os reformados e doentes podem ir morrer, tal como os militares que já sabemos que será na Síria, os professores no Brasil e Angola, descalços, de caixote à cabeça a distribuir as encomendas. Os restantes, tem a alternativa de reviver os velhos tempos, exilar-se e voltar a ocupar o Bidonville de Champigny em Paris, para mostrar a nossa veia aventureira, hasteando a bandeira nacional no acampamento à conquista da cidade como nos anos 60, a qual só arreou com a intervenção dos C R S e policia antimotim, a arrear forte e feio nos emigrantes, que depois de terem fugido à fome de pão, (como hoje) começaram a comer cacetada à grande e à Francesa.
Dito isto: o neto da sogra do descendente das bebedeiras de Noé e seu patrono Stº Onofre, não se põe a questão de saber se o homem é uma invenção de Deus, ou se Deus é uma invenção do homem. O mais certo é que o Criador falhou o seu projeto, e criou Monstros que não consegue controlar. “Pai do Céu, porque nos abandonas-te”?

sexta-feira, 1 de março de 2013

Portugal à venda

02/03/2013
Em tempo de paz, “neste País ocupado em estado de guerra”, desobedeci ao recolher obrigatório, três dias antes de o mundo acabar segundo o Calendário Maia. Antes de passar para o “lado-de-lá”, passei para o lado da Galiza visitar a taberna do Ti-Manolo. Perguntei-lhe o que estava a fazer: respondeu, “não faço nada”. Sentei-me ao seu lado para dar-lhe uma ajuda, mas não consegui concretizar o último desejo, de comer uma fatia de tortilha seguida de uma tapinha de calhos, a fim de ganhar forças para a viagem do juízo final. O meu fim do Mundo quase foi antecipado para o dia 18, com a tortilha trancada na garganta, quando li no jornal Espanhol “El País”, (em relação ao lado-de-cá), “O governo põe Portugal à venda”.
Regressei ao País em cacos e à deriva, para despedir-me dos amigos no caso de a viagem para o além se processar em grupos separados. Na manhã seguinte ao fim do mundo, acordei a pensar que tinha morrido. O calendário Maia já tinha voltado á estaca zero, eu continuava a salivar com a fatia de tortilha que vinha mesmo a calhar, para me fortalecer na caminhada com os Maias por mais 5.125 anos.
Ao espreguiçar, notei que estava vivo. Espreitei pela janela, o Mundo estava ali, “gente” curvada a passar na estrada, resignada, com aspeto de quem tinha sobrevivido a um cataclismo, ou perdido a guerra, agora humilhada a uma obediência canina, de quem recebe a côdea e abana o rabo em sinal de agradecimento.
Calcei as botas, fui ver o meu país ocupado pelo invasor. A destruição era arrasadora, o invasor passeava a seu-bel-prazer, perante a cobardia de “gente” curvada e resignada, na lama das trincheiras empurrada pelo inimigo.
Uma guerra fardada não seria mais devastadora. Os pontos estratégicos tinham sido tomados. Televisão, radio, jornais, rede elétrica, petrolíferas, Bancos, aeroportos, transportes aéreos, marítimos e terrestes, redes de comunicação, abastecimento de bens essenciais, salários e reformas. Até os novos submarinos do “C D S” estavam imobilizados sem gasóleo, á espera de barbatanas para poderem combater a nado.
Foi-se a soberania Nacional. O invasor sabia de antemão, que isto era uma terra de brandos costumes, sempre emaranhada em Troikas, desde a Troika dos F-F-F, até á Troika do FMI-BCE-CE. “Uma terra sem resistência, fértil em lambe-botas (machos e fêmeas), elas (traidoras) acompanhantes de luxo, a passear de minissaia e salto alto, encandeadas pelo brilho da carteira e das estrelas dos hotéis, ao serviço dos clientes. Eles, (traidores) acompanhantes de lixo, a servir de mesinha de cabeceira para pegar na “velinha” do todo-poderoso invasor.”
Deveriam os traidores da Pátria, saber o trato que a Resistência Francesa deu aos seus homólogos, quando foram invadidos pela mesma armada. Elas, marcadas com a cabeça rapada, obrigadas a desfilar pela rua em roupa interior, com uma corda atada á perna, e cuspidas pelos patriotas na sua passagem. Eles, com idêntico tratamento, no percurso até ao madeiro onde eram atados de mãos atras das costas, antes de serem entregues aos patriotas de serviço que lhe tratavam da tosse. Uma bala era o último desperdício com o traidor.
Também é verdade, que é um crime comparar um General-de-Quartel, com um Coelho de toca, que só tem algum interesse depois de esfolado, e cozinhado frito com batatas á murro.
Pobre País. Quem te viu e quem te vê. Faz lembrar-me a fábula que o Ti-Quim tantas vezes nos contava. “ Era uma vez um velho leão, doente e moribundo, recordava o seu tempo de jovem moço, em que havia sido o rei da selva. Apareceu um javali, e para vingar-se deu-lhe uma focinhada, veio o touro deu-lhe uma cornada, veio a abelha deu-lhe uma picada, seguiram outros animais até que chegou a vez do Burro que lhe deu um coice: o velho rei da selva doente não pode conter-se; Até agora sofri resignado: mas agora até tu miserável Burro me vens desfeitear:… isto é como morrer duas vezes!
Moralidade da história do Ti-Quim;.. Quando a desgraça cai no HOMEM, não faltam homenzinhos para ajustar contas: o HOMEM infeliz sofre resignado; Porém há Burros tão Burros que tornam impossível a resignação.
Até quando os moribundos vão resignar-se e aguentar coices de burros, ferrados à custa de quem lhe abastece a manjedoura? Até quando o manso rebanho aguentará os piropos do Gaspar, a quem o pior povo do mundo chama de Rei, e o melhor povo do mundo chama de gatuno? Elogiar a vítima, faz parte dos Manuais-de-etiqueta. Até o carrasco ostenta ar compungido para aliviar a repugnância do acto. 
Um País de terra fértil, mar generoso e céu azul, merecia ser governado por gente, e não por demónios que nos queimam nas labaredas do inferno. Quem não se lembra de alguns desses “beneméritos” como; Soares, Cavaco, Sampaio, Barroso, Sócrates, Guterres e Coelho? É que isto da bondade é hereditário. 38 Anos ao serviço do “Zé”, foram-se com reformas e mordomias, deixando o “Povinho” pendurado ao peito da “medalha de mérito”, com que as Agencias de Notação Financeira brindaram o País: “LIXO”
Por onde andou esta gente e a (sua) Constituição que tudo permitiu durante quatro décadas? Fazem lembrar-me o (fulano), pai do casal de desempregados no tempo das vacas-gordas, em que a oferta de emprego era de dois para cada um. Quando o filho foi preso por furto, e a filha ficou sem valor no “mercado”, o fulano atou as mãos à cabeça, arrependido por não ter perguntado a proveniência de tanta abundancia!
Qual o nosso futuro, se nunca questionamos o principio que nos ruina, mas tão-somente discutimos as modalidades da aplicação desse mesmo principio?
Se encolhemos os ombros, com o desperdício na formação de futuros emigrantes, em vez de criar empregos para os nossos desempregados?
Se somos indiferentes aos tachos dos Boys, com salários milionários, considerados especialistas aos 24 anos? Que especialidades são essas, a não ser a de mamar na teta e sujar a fralda?
Se ficamos chocadíssimos quando anunciam o despedimento de 50.000 funcionários públicos, e não levantamos um dedo pelos 1.500.000 de privados no desemprego?
Se assobiamos para o lado com as mudanças de governo, onde apenas mudam as moscas e a “Companheira-Das-Sucias” (CDS), sempre pronta para mais uma farra?
Se aceitamos um governo que alimenta as gorduras do estado e corta no músculo do povo para o impedir de trabalhar e produzir?
Se não percebemos que a luz que nos apontam ao fundo do túnel, é a luz do comboio que vem em sentido contrário, de regresso aos mercados depois de nos esmagar, e roubar o fruto do trabalho de tantas gerações?
Se depois de esfolados vivos ainda nos transformamos em bufos do fisco para denunciar o vizinho que não passa factura? Pela parte que me toca, se um dia ao sair de um bar-de-alterne, alguém (para ganhar a vida) for obrigado a perguntar-me se pedi factura, responderei em legitima defesa da honra com a resposta que o Ex-secretário de Estado deste governo Francisco José Viegas deu no seu blogue (A origem das Espécies): “ vá tomar no cu”. IVA incluído…
A continuar nesta vida, o nosso futuro, será certamente o de acreditar no Pai-Natal (de Lapónia), e no milagre da aparição do “Pai-de-Belém”, depois de este ser condecorado das “Boas” Acções $ do B P N, e da ordem protocolar do Bolo-Rei.  
Se os governos são o espelho do povo, estamos conversados. Que triste figura a nossa.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O funeral da classe média

            02/01/2013

            Com 96 anos, ainda não tinha perdido a esperança de ser assassinado por um marido ciumento, e afiançava (a pés juntos) que ainda “ia” quase todos os dias. Jurava que quase “ia” na segunda e na terça-feira, e por pouco quase tinha “ido” na quarta, sem nunca desistir de tentar “ir”. Teimosias do passado, agora diluídas no conformismo das pantufas, para ir ver banalidades na televisão, que mobilam o tempo de antena nos intervalos das novelas e da casa dos (S) Degredos.
Num desses tempos-de-antena, debatia-se as declarações da Sª Isabel Jonet, que conheço de vista, pelo excelente trabalho que desempenha, benevolente há 30 anos, ao serviço do Banco Alimentar Contra a Fome, para socorrer mais de trezentos e setenta mil pobres desemparados.
Em breves declarações, a Sª recomendou a urgência de reconquistar valores perdidos, dando quatro como exemplo.
1º- No seu tempo de criança, foi ensinada a lavar os dentes com um copo, o que a sua filha agora faz com a torneira a correr.
2º- Os filhos (trintões) que vivem á custa dos pais, tem de optar por ir ao concerto de Rock, ou poupar o dinheiro para uma radiografia que venha a ser necessária fazer.
3º- Se não temos dinheiro para comer bifes todos os dias, não os podemos comer.
4º- As pessoas com mais de 45 anos, só voltarão a ter emprego se criarem o seu próprio negócio.
Talvez por defeito (de fabrico) meu, ou por ter crescido com razoável dentição, mas sem bifes para a usar, com copo para a lavar, mas sem torneira com água a correr, aplaudi, achei que a Sª “falou como Deus”, e que as suas sábias recomendações, eram os primeiros passos para fugir da pobreza.
Passados escassos minutos, “terminava a paz no canil, com os fiéis amigos em matilha”, a zurzir a torto-e-a-direito na Sª, acusando-a de incentivar os pobres a habituar-se a ser pobres.
O debate, apoiado em reportagem televisiva num salão de cabeleireira, a entrevistar uma “pobre”, com capacete de astronauta na cabeça, mão estendida com a palma virada para baixo, enquanto a manicura lhe tratava e pintava as unhas. Com voz de “remediada”, berrava desalmadamente, que o País era uma merda, os subsídios eram cada vez mais escassos, já nem davam para manter o corte de cabelo do filho, com o visual dos “Morangos com açúcar”.
Os governantes que só pensam em manter o lugar, em beneficiar as “vacas leiteiras” financiadoras dos partidos, e em dar jobs-aos-Boys de serviço: deveriam ouvir atentamente as recomendações da Sª, que aconselha ao fecho da torneira, para pagar as águas corridas, os concertos vividos, os bifes comidos, alterar a ementa para ovos estrelados, e transformar os concertos de guitarras e violas, em consertos de solas dos sapatos esburacados.
Os políticos não largam mão dos pobres. Fazem lembrar-me a tia-avó, que ganhou notoriedade, a auxiliar (não os “pobres” parasitas que o governo inventou, mas sim) os pobres desgraçados que o destino condenou. Descalços, unhas aparadas com tesoura de podar, calças rotas, casula de cardeal confecionada com sacos de lona, que servia (au mesmo tempo) de camisa e mochila para guardarem as esmolas, cabelo e barba comprida, recheados de pulgas e piolhos, com um toquezinho (á chefe) de carrapatos agrafados nas joias-de-família.
Quando se perguntava ao Sr. Pobre barbudo, onde metia a barba para ter tantas pulgas, respondia que vinham da zona púbica da sua Pobre companheira. Adiante! O Sr. Pobre barbudo, “vendia” boa disposição. Quando a tia-avó, lhe deu a esmola de dois tostões, e lhe recomendou para não gastar o dinheiro em tabaco, respondeu; “ fique descansada minha senhora, vou comprar um barco de recreio”.
Uma vez, apareceram dois pobres, a quem a tia-avó, fez o questionário de sempre a pobres desconhecidos. Perguntou ao primeiro, se gostava de fumar, de beber, de comer bem, e levantar tarde. O Pobre respondeu positivamente a todas as perguntas, e recebeu a esmola de 5 tostões. Fez as mesmas perguntas ao seu companheiro. Este apressou-se a responder que, nem era bêbado, nem fumador, nem comilão, nem calaceiro, e recebeu a esmola de 2 tostões. Furioso por ser um Pobre exemplar, e receber a esmola mais pequena, teve a resposta da tia-avó: “ és um pobre exemplar, mas não tens as necessidades do teu companheiro”.
Os Pobres que por ali passavam, pernoitavam sempre no palheiro da tia-avó. Um dia, quando ia à catequese (a fim de angariar indulgencias para o meu futuro celestial), dei de caras com um funeral, seguido da sombra escura da mulher a carpir, que chorava pelo destino agreste que esperava o defunto na tumba. “A casa onde não se come nem bebe, não há cama e a noite é fria”. Desatei a correr, avisar o Sr. Pobre barbudo, para fechar a porta do palheiro, não viesse o defunto disputar o nada aos mortos de tudo que ali pernoitavam.
O tempo passou, o palheiro acabou, os pobres continuam a suportar os carrapatos, e também a praga de outra classe de ”pobres” parasitas (piores que a peste negra) que estão a definhar o País.
Os ricos trancaram as portas e continuam a andar de Ferrari. Nós, confiamos a tranca da porta aos caciques, (que nos põe a pedir) para alimentarem os “pobres” parasitas que o governo inventou, á custa dos remediados que ficam cada vez mais pobres, e á custa da sobrevivência dos verdadeiros pobres desgraçados que o destino condenou, que ficam cada vez mais miseráveis.
Por maior insistência do meu amigo, não consegui ver o casal de “Pobres” (que o governo inventou), que no café terminava de lanchar, antes de ir recolher os filhos á escola. Opobre”, disfarçado ao volante do carro, detrás de óculos de sol. A “pobre”, (sem capacete) mas com bota preta de cano alto, calça e camisa apertada com decote generoso, cabelo colorido de roxo, e unhas pintadas a condizer com o tom da maquilhagem. Eram tão miseráveis os “Pobres” do meu amigo, que nem conseguiam poupar 50 cêntimos, nas centenas de euros da decoração visual, para comprar massa-cotovelo, e matar a fome dos filhos, que tem na escola a única refeição do dia.
Também é verdade, que a esmola da Tia-avó (Estado), não chega para comprar um barco de recreio. Mas vai chegando para manter o carro, renda da casa, luz e água, para lanchar no café antes de recolher os filhos na escola, e em casos de miséria descarada, até dá para acompanhar os concertos de “Toni Carreira”.
A ruina do pobre, é quando deixa de ser discreto, e a abundancia o transforma no carrasco do remediado e na desgraça do pobre necessitado.
Finalmente, os Pobres do meu amigo são ainda mais parasitas que os carrapatos dos meus. Se voltasse à catequese, voltaria a correr avisar os Pobres para fecharem a porta, que vem a caminho a sombra escura da mulher a carpir, a chorar no funeral da (defunto) classe-media, para disputar-lhes o lugar no palheiro. “ A casa onde não se come nem bebe, não há cama e a noite é fria”. É a vida: Se na democracia da vegetação as ortigas votassem, seria o funeral dos lírios do meu jardim.