terça-feira, 30 de abril de 2013

E Deus fica calado

01/05/2013
Batismo aos vinte dias, primeira comunhão aos seis anos (sem saber ler nem escrever), comunhão solene aos oito, quarta classe aos 10, crisma aos 12, altura em que a avó foi pedir a bênção do Pastor para que o neto fosse admitido no rebanho e seguisse as suas pisadas. O Pastor recusou o pedido, destruindo assim o desejo da avó, por causa do comportamento do pai do neto, que era um apreciador assíduo do néctar das vinhas do Senhor, e (pecador) leitor reincidente do jornal (pouco recomendado) Republica, ao contrário do (recomendado) jornalzinho paroquial que o pai do neto usava para embrulho de sardinhas e demais necessidades quotidianas. Triste, desiludido, o neto questionou a avó: E Deus fica calado?
O tempo passou, o neto nunca entendeu o comportamento do Pastor. Se é normal os progenitores responderem pelos atos dos filhos menores, o contrario causa alguma estranheza. Terá o Pastor sido iluminado numa antevisão divina, e viu por antecipação que o puto dificilmente iria passar a vida a jejuar do fruto proibido, e que seria um sério candidato à expulsão do jardim do Éden!
A ser verdade que Deus nos criou á sua imagem e semelhança, o neto não contesta a bondade de tão nobre iniciativa, e até compreende que no meio de uma absoluta solidão, sem corte celestial, sem ministros e conselheiros para conferenciar e tirar duvidas, e depois de uma semana tão cansativa para criar a Luz, o Céu, a Terra, o Sol, Peixinhos e Passarinhos, só ao sexto dia antes do merecido descanso semanal, é que lhe foi possível tratar da criação de criaturas com este triste resultado. Desde então, sempre em constante degradação até aos nossos dias, a começar pela primeira parelha, que foi expulsa do jardim do Éden por comportamento indecente. Indecente continuou o comportamento do primogénito Caim que não encontrou melhor passatempo senão o de matar o irmão Abel.
Depois foi aquilo que se viu. As bebedeiras de Noé, das quais até hoje nada se sabe se eram de tinto ou branco, para não falar das maldades que o filho lhe fez quando o encontrou embriagado na tenda, em pelota tal como o Pai o mandou ao mundo. Seguiu-se o comportamento desviante de Abraão com a criada Hagar, (cujos usos e costumes preservamos religiosamente ate aos nossos dias) e os parricídios atos de sacrificar o filho Isaque, não fosse o Anjo a salvar-lhe a vida e ordenar que em vez do filho sacrificasse uma ovelha (inocente) que por ali andava perdida. Porem, ninguém pode culpar o Criador de não tentar ajudar-nos. Era vê-lo jovem, todo-poderoso com Moisés a separar as águas do mar vermelho, a abrir-nos caminho para fugir do inimigo. Depois de salvos, a ordenar que as águas se juntassem e engolissem os perseguidores. Pobres e mal-agradecidos, aproveitamos a ida de Moisés ao monte Sinai conferenciar com o Pai, para iniciarmos nova conspiração e a pouca vergonha de adorar a imagem de um Touro em detrimento do Criador, que provocou a cólera de Moisés ao partir as tábuas das Leis, antes de serem promulgadas. Passados mil e quinhentos anos, Deus ainda tentou delegar poderes no filho para nos salvar. Recebeu em recompensa o filho pregado na cruz.
Não é de admirar que a idade e o nosso miserável comportamento, trazem Deus zangado e desiludido. Mas caramba, somos fruto da sua invenção, e não é justo abandonar-nos à deriva, a pagar o justo pelo pecador no meio desta ladroagem de carteiristas e vigaristas capazes de tudo, até de ensopar o pão e regar o bacalhau do Natal com o azeite roubado da lamparina do Senhor. Compreendo que (até) somos do piorio que se pôde inventar, e que no último século destruímos mais, de que nos restantes cinco mil milhões de anos do seu Reinado na Terra.
Que diabo, o neto não pede ao Criador para se manifestar com milagres como aqueles 35 à moda antiga do Novo Testamento, que agora tanto jeito davam. Tal como o de transformar água em vinho, (que anda pelas horas da morte), ou o de matar a fome a cinco mil famintos com 5 peixes e 2 pães, e ainda o de pescar 153 grades de peixe sem se molhar, ou de pescar peixes que já trazem moedas (convertidas) na boca, ou então já que ressuscitou Lazaro dava-nos um jeito do caraças se nos ressuscitasse meia dúzia de Salazares.
Nem sequer se atreve a criticar o Criador, por não ter afastado com um sopro o tsunami da Indonésia de 2004 que levou 300 mil inocentes, ou por não ter colocado o dedo encima das placas sísmicas do terramoto do (pobre) Haiti que levou mais 100 mil, e ainda por não ter desviado os aviões das torres gémeas que lhe roubaram mais 30 mil filhos. Se a idade já não lhe permite grandes Milagres, deveria então manifestar-se com um daqueles mais mediáticos que costumam estar na área de intervenção das “Senhoras” de Fátima e Lurdes. Como por exemplo, o Milagre de desviar os donativos universais do Óbolo de são Pedro, e entrega-lo aos irmãos do Zimbabué que sobrevivem com menos 0,50 cêntimos por dia, para liberta-los das labaredas Infernais onde estão a penar alguns dos 40 anos de esperança de vida, para que tenham uma vaga ideia das regalias Celestiais que levam os 921 irmãos de Francisco que vivem no Vaticano em representação do Criador.
Agora que a avó do neto faz parte do Além, poderá o Altíssimo confirmar a veracidade das suas afirmações, quando ela dizia que Deus está em toda a parte, e sabe tudo o que se passa. Se assim é, devera certamente o Criador ter alguma opinião do mundo que criou, mesmo se ainda não se dignou prenunciar-se. Pois algo terá a ver com aquecimento global, e com as revoluções do Norte de África, mesmo se acontecem em território da jurisdição Islâmica em que ditaduras matavam o povo, agora substituídas por tiranias religiosas que já entram a matar, legitimadas democraticamente pelos carrascos da democracia, que nos permitirão de julgar as futuras atrocidades com outra benevolência, na paz do Senhor.
Os sinais que chegam à terra são pouco animadores. Parecem querer dizer-nos que o nosso Deus é de uma direita fora de uso e em vias de extinção, que deixa privatizar tudo que lhe passa pela frente, para colocar os bens nas mãos dos mais poderosos, e coabita linda e Divinamente no meio deles, cada vez mais ricos a quem tudo sobra, e cada vez mais pobres a morrer de fome, e continuamos sem notícias do Criador sobre as calamidades, atrocidades e injustiças quotidianas no Mundo que criou.
Por cá, vemos os Ministros aumentar os salários deles e a diminuir os nossos, vemos o da Solidariedade que depressa encostou a scooter de transporte pobre, para ir visitar os pobres aos Bancos Alimentares Contra a Fome em transporte de rico, que também faz parte de um Governo que se governa a si próprio, assim que à sua família e mais um círculo restrito de amigos, com Ministros a expulsar o povo que deveria proteger, e com o Primeiro-ministro a passar as guias de marcha aos excluídos da mesa do orçamento, apontando o caminho onde os reformados e doentes podem ir morrer, tal como os militares que já sabemos que será na Síria, os professores no Brasil e Angola, descalços, de caixote à cabeça a distribuir as encomendas. Os restantes, tem a alternativa de reviver os velhos tempos, exilar-se e voltar a ocupar o Bidonville de Champigny em Paris, para mostrar a nossa veia aventureira, hasteando a bandeira nacional no acampamento à conquista da cidade como nos anos 60, a qual só arreou com a intervenção dos C R S e policia antimotim, a arrear forte e feio nos emigrantes, que depois de terem fugido à fome de pão, (como hoje) começaram a comer cacetada à grande e à Francesa.
Dito isto: o neto da sogra do descendente das bebedeiras de Noé e seu patrono Stº Onofre, não se põe a questão de saber se o homem é uma invenção de Deus, ou se Deus é uma invenção do homem. O mais certo é que o Criador falhou o seu projeto, e criou Monstros que não consegue controlar. “Pai do Céu, porque nos abandonas-te”?

1 comentário:

Unknown disse...

É meu caro.
Deus, e os homens, os homens e Deus que grande confusão, e nós que tantas veses emprenhamos pelos ouvidos...