16/09/2013
Chegado o Outono da vida, vencida a
meta das oitenta primaveras, o Timanel é um luxo de mecânico à moda antiga. A chave
de fendas e o ouvido basta-lhe para transformar os carburadores em verdadeiras
sinfonias. Tive a sorte de lhe confiar os cuidados do meu popó, fiel
companheiro já com a idade da tropa, e ainda está aí para as curvas, pronto
para o que der-e-vier. Nunca sai da oficina sem as recomendações do Mestre. “A ver se te portas como deve ser”.
Deus quis que a companheira de sempre o
abandona-se antes do fim da caminhada, precisamente na mesma altura que o mesmo
Deus lhe devolveu o filho (depois de este ter saído de casa para constituir família),
agora acompanhado da mulher e três filhos, sem emprego, sem casa e sem carro,
que entretanto lhe foram penhorados para financiar mais uns dias de farra aos “papa-galhetas”,
cuja forma de vida sempre foi de viver pendurados no salario de quem trabalha.
O Timanel recebeu filho, nora e netos de braços abertos, com força e coragem de
quem ainda é homem de sobra para as encomendas.
Nesta difícil fase da vida, a fim de atenuar-lhe
tanto sofrimento, convidamos o Timanel para uma excursão privada “a pagar”, (não
daquelas à custa da comunidade, com cama e mesa para os que tem hábitos de
viver acima das “nossas” possibilidades), mas sim das de açafate com bifanas,
bolinhos de bacalhau, garrafão da pipa do meio, sem esquecer o delicioso cabrito
á “Foda de Monção”, deixando o sucessor “Cordeiro de Monção” para os cordeirinhos
recordarem as deliciosas “Fodas” que tem ingerido nas deliciosas farras e
abastadas excursões.
A coisa começou a desafinar quando uma
excursionista lhe perguntou por que não aproveitou a excursão à “borla” a que tinha direito. O
homem levantou-se do banco, deu três voltas á casqueta, e sem os requintes
de linguagem das novas pedagogias com quem anda de relações cortadas, chamou a
senhora de Burra com todas as
letras, antes de puxar da carteira com a forma da nádega, para começar a
debitar: “Oh mulher; Você pensa que
me vendo por um copo de vinho para ouvir comícios de lavagens cerebrais até aos
próximos actos eleitorais?” “Subsidiam-se passeios seniores para quem vota, e
excluem-se passeios de estudo júnior para quem não vota. Para preparar as
próximas gerações limitasse os passeios de estudo entre Cerveira e os Anhões, mas
navega-se pelo Rio Douro para preparar as próximas eleições. O Xuxalismo só
acabará quando o dinheiro do vizinho acabar”.“Como tudo isto me mete nojo”.
Ainda o Bentinho ia a meio da quadra,
já o Timanel lhe tinha engrunhado os foles da concertina para continuar a sua indignação.
“Com a cegueira que anda à solta, esta Tropa-fandanga
não olha a meios para atingir os fins. Conseguirá lotação esgotada se também organizar
uma excursão para levar os ceguinhos ao Cine(ma) Teatro João Verde agora pintadinho
de novo, com os holofotes focados em políticos: que tem dinheiro para abrir
cinemas quando o resto do País os fecha: que sustenta um ginásio desastroso para
contribuintes e empresários privados do sector, um verdadeiro ninho de Jobs
para Boys Xuxalistas: que tem dinheiro para comprar clubes de futebol falidos: mas
que lhe falta vontade e dinheiro para gastar com os “parolos” das Aldeias que
vivem na escuridão com a iluminação pública apagada. Não pode haver vícios onde
não há dinheiro. É ridículo e desastroso poupar no que é necessário para gastar
com fanfarronices. É ainda mais ridículo e desastrosa a passividade das Juntas
de Freguesia com o poder central que faz o que quer, e dá a esmola quando bem
lhe apetece. O que é isto? Parece uma Republica das Bananas que sobrevive á
custa da ignorância dos Bananas da Republica, catalogados de fanfarrões e atrasados,
que temos medo de perder o medo, que somos
desorganizados e conhecidos pelo resto do mundo de “pedintes a viver na barraca, com antena parabólica no telhado, plasma
pendurado na parede, três telemóveis no bolso, o prato vazio encima da mesa, e um
submarino estacionado à porta”.
Depois do desabafo, o Timanel limpou a
testa na manga da camisa antes de afiançar pelos ossos da falecida irmã, “que em tempos idos, aviou seis numa tarde
sem tirar o bivaque de magala”. Ainda hoje é famoso por ter a mão mais
diligente dos arredores no que diz respeito a traseiros femininos.
Em maior forma que o nariz de Durão
Barroso, começou a atirar-se (salvo seja) às viúvas e aos políticos, até cheguei
a pensar que não iriamos regressar vivos. E para vincular o carinho que “elas”
tem por nós, contou a história de uma senhora que estava em casa a descascar
batatas, quando a vizinha lhe deu a notícia que o marido tinha morrido
atropelado, a qual respondeu: “bom, já
não é preciso descascar mais batatas: é um prato a menos e uma cruz a mais”.
E, para encaixilhar a classe política que temos, contou que “a Câmara abriu o concurso de uma obra para
a qual concorreram o Sr. António, o Sr. Pedro e o Sr. João. O Sr. António pediu
300 mil €, 100 para o material, 100 para o trabalho e 100 para o lucro e
garantias. O Sr. Pedro pediu 600 mil €, 200 para o material, 200 para o
trabalho e 200 para lucro e garantias. Os dois concorrentes foram excluídos. O
Sr. João pediu 900 mil €, 300 para mim, 300 para ti, e 300 para o António fazer
a obra. Ganhou o concurso!
Valeu-nos a hora do almoço. Depois de
um assalto ao açafate e ao garrafão, fomos visitar o Cristo Rei. Quando o nosso
guia, (sem lavagens cerebrais) nos explicava a história, que a ideia do
santuário foi trazida em 1934 pelo Cardeal Cerejeira depois de uma visita ao
monumento do alto do Corcovado no Rio de Janeiro, e que o terreno foi adquirido
em 1941 e colocada a primeira pedra em 1950, tendo sido inaugurado em 1959 para
agradecer ao “Altíssimo” de nos ter livrado da II Guerra Mundial, e que foram gastas
40.000 toneladas de betão para erigir a estátua da autoria do Mestre, Francisco
Franco; O Ti-Manel desatou a saltar aos gritos. “Milagre, Milagre, o Cristo está
a voar para norte”, quando consegui convence-lo que eram as nuvens
tocadas pelo vento que voavam para sul, o céu limpou e ficamos na dúvida se foi
mesmo milagre do Cristo ou magia do garrafão.
Reconheço o desajeitado que sou para
meter cunhas. Porem, em sacrifício pela comunidade, peço ao Sr. Presidente da
Câmara que aproveite os dotes e a sabedoria do Timanel, para dar uma afinação na
máquina que anda pelas ruas da amargura, e assim livrar-nos do desastre há
muito anunciado.
No meu modesto entender, é urgente dar uma
afinada na direção da máquina, que anda sem rumo, com folgas, desvios à direita
e à esquerda, quando não encrava e fica a andar á roda sem sair do sítio. O
carburador deveria gastar menos, acelerar e carburar mais. Os travões sem
pastilhas já só travam com cunhas, por muito menos, muita boa gente já foi parar
aos anjinhos. O cárter baba-se todo, deixa manchas que provocam derrapagens e
desastres de morte certa. A suspensão, não aguenta mais buracos nas estradas e
nos orçamentos que mais parecem um queijo Suíço. As óticas, coitadinhas parecem
a lamparina do Senhor, a anunciar-nos cada vez mais túnel e cada vez menos luz.
A caixa de velocidades parece a cantiga dos Canários a meter a primeira e a
segunda no popó da namorada, de resto já só engata de marcha a traz. Os escapes
ruidosos, barulhentos, poluidores, parecem canos de esgotos. As válvulas
confundem-se com a dança de sapateado do “Fred Astaire e Eleonor Powell no
Broadway” com um vasqueiro insuportável. A rádio parece uma grafonola com o
disco riscado a cantar sempre a mesma música. Porem, nem tudo está perdido, estão
de parabéns o bate-chapa e o pintor, pelo brilho dos cromados que continuam a ofuscar
a populaça radiante de ver os “fantoches” pendurados a baloiçar no retrovisor.
Senhor Presidente: Vá á sua vidinha, e
não queira em tempos de luto pesado, carregar os remorsos de ter confiado as
afinações dos travões em borguistas festivaleiros, e em guias de excursões. Sabe
que na primeira curva ficamos todos (incluindo o Sr.) com a cara estampada na parede.
Em jeito de confidência, o Timanel aconselhou-me
a ficar fora da máquina, porque já não tem a certeza que as afinações cheguem a
tempo de evitar o desastre.
A excursão dos Xuxalistas, terminou
viagem a mamar e a “ Xuxar na Xuxa do povo”. A excursão do Povo que não Xuxa na Xuxa
e
dá a Xuxar aos Xuxalistas, terminou num arraial Minhoto a dançar a música
do Quim Barreiros e “a mamar na teta da cabritinha
/ mamo nela quando quero / porque a cabritinha é minha.” Et voilà.