Em Monção, o clássico bailado de dança das cadeiras do poder,
fez lembrar-me a cena do filme “Traffic” onde o velho general fazia a passagem
de testemunho ao seu substituto.
“Traffic” um filme Germano-Americano de 2000, dirigido por
Steven Soderberg que relatava o narcotráfico de diversas prospetivas: de um
usuário, de um capanga, de um político, e de um traficante.
A determinada altura, um velho General experiente, fazia a
passagem de testemunho da coordenação da luta contra o tráfico de droga ao seu
sucessor, a quem contava a história do antigo líder russo Kruschev, que quando
forçado a sair, se sentou, escreveu duas cartas para entregar ao seu sucessor
com as seguintes recomendações. “Quando
chegares a uma situação sem saída, abre a primeira carta e estarás safo”. “Quando
voltares a encontrar-te em situação idêntica abre a segunda carta”.
O novo e inexperiente aspirante a general depressa levou a
coordenação a um beco sem saída, abriu a primeira carta que apenas dizia: “Culpa-me de tudo”. A solução revelou-se
eficaz. Tudo era culpa do passado.
Depois de algum tempo a situação voltou a degradar-se até
cair na segunda situação limite. Esperançado, o novo dirigente abriu a segunda
carta que dizia: “Senta-te e escreve duas
cartas”.
Mais do que o conteúdo das cartas, marcou-me a carga
metafórica do velho general, vergado pela experiência de vida, consciente das
suas capacidades em contraponto com o inexperiente sucessor crente que a sua
motivação, convicções e princípios iriam fazer a diferença.
É com tristeza que vejo Monção a caminhar para uma situação
sem saída. O sucessor não tardou em abrir a primeira carta não só para disfarçar
o beco sem saída culpando o passado, mas tão somente criar para si próprio um
currículo que definitivamente não tem e dificilmente um dia terá.
Os sinais anunciam uma governação de navegação à vista, sem
rumo e sem horizonte baseada na culpabilização do velho general e do passado. A
falta de gabinetes para vereadores e deputados da oposição, a não consolidação
da divida, o atraso nas atividades extracurriculares, os parquímetros, os
velhos hábitos forrobodescos com os tradicionais magustos, jantares de Natal a
23 pagos por quem a 24 só pode cheirar o bacalhau. E ainda o forrobodó de “atividades
de laser” promovidas pelos boys de serviço e personalizadas pelo pessoal de
sempre, levadas a cabo nas piscinas, ginásio e cineteatro para que não falte
exercício físico, banho e relaxamento com comédia de Ópera-bufa para retratar a
triste realidade Monçanense.
Consta ainda no rosário do despesismo as abastadas e luxuosas
excursões, e o turismo subsidiado dos tesos. Enquanto os vizinhos arrecadam os
euros nós requisitámos funcionárias para servir refeições aos turistas tesos,
velhos “habitués” da nossa mesa do orçamento, enquanto os nossos restaurantes
andam às moscas. Completa-se o ramalhete com o pagamento das penhoras e faturas
da EDP para manter em pé os moribundos caprichos futebolescos.
É claro que todo este
clamor será administrado pela carrada de nomeações de “chefes”, que ao contrário
dos professores, não tem de pagar e provar que sabem o que já sabiam, para
começar a faturar com salários principescos passeando incompetência e ignorância
por cima de anos de profissionalismo de pais de família e gestores privados que
veem assim banalizado e emporcalhado o esforço e o fruto do seu trabalho que é transformado
no papel higiénico destes coveiros da sociedade.
Estranho seria se um incompetente não nomeasse outro da sua
laia que por sua vez seguirá o guião da incompetência até colocar a cereja no
bolo da desgraça final. É por causa destas incompetências que pagamos décadas
de despesismo desde o tempo da ditadura até ao tempo da “dita mole” tão flácida
e impotente que nem com óculos de ler se vislumbra qualquer crescimento
sustentável.
Cinefilamente falando, parece que o aspirante a general
ainda não percebeu que os amantes da 7ª arte já não se limitam a querer a
mudança dos atores incompetentes como afirmam que já estão fartos de ver este
(Traffic) filme de clara cultura de arrebanhamento, promoção da ociosidade e
despesismo, em vez de promover as escolas, a indústria, o comércio, serviços,
agricultura e o pleno emprego para que a gente de Monção encontre a sua dignidade
de ser gente e o caminho da verdadeira cultura da liberdade.
Arrepiou-me a resposta que o sucessor deu aos colegas numa
reunião do executivo Camarário quando se ponderava uma auditoria às contas. “Não vale a pena, porque me palpita que a
Camara vai ser auditada pela IGF”. Assim mesmo e sem pestanejar.
Sem palpites, seria muito mais correto o sucessor ter
informado os colegas que a Camara vai ser inspecionada (ou já foi) por causa do
ginásio municipal. Que vai pagar a coima (ou já pagou) de uma contraordenação.
Que vai ter de repor o IVA (ou já repôs) desde Outubro de 2010 a novembro de 2013.
Que o contribuinte vai ter de continuar e abastecer a manjedoura do elefante
para pagar estas ilegalidades. Que em setembro de 2013 andaram sorrateiramente
a incluir o IVA nos preços do ginásio, mas em vez de aumentar diminuíram 23% para
que tudo ficasse na mesma e para mostrar que vale tudo enquanto o contribuinte
aguentar e a concorrência não for definitivamente enterrada.
Não ficaria admirado se o coador das fugas tivesse largado
mais uma, como a do polícia que vai a caminho e avisa o gatuno para fugir, razão
pela qual terá sido incluído o IVA à pressa antes de a inspeção chegar. Ou então
a inspeção já terá sido efetuada, mas como a governação em Monção era do tipo confidencial,
os donos da coutada esqueceram a regra que a verdade é como o azeite, por mais
reviravoltas que se dê acaba sempre por vir ao decima.
Até salivo só de pensar no meu avô quando dizia, “quem não sabe F…. (que rima com prazer)
até os C…… (que rima com balões) lhe enredam,” razão que me obrigou a fazer-me
à vida desde tenra idade. Na mesma linha de pensamento filosófico deste naco de
sabedoria, o meu avô acrescentava: “certa
gente não F… (que rima com não pode)
nem deixa F…. (que rima com prazer) ”. O mesmo que dizer que os parasitas, “nem trabalham nem deixam trabalhar.”
É lamentável, arriscado e de péssimo mau gosto que certa
“gentalha” se sirva do poder para tentar humilhar, apoucar, brincar com a
dignidade e a vida profissional de jovens que investem e criam empregos na sua
terra, “sem lamber os C…… (que rima com balões)
a ninguém.”
Da profundidade deste mar de dúvidas emergem duas certezas: 1ª,
ninguém tem C….. (que rima com balões)
para prever o final deste (Traffic) filme.
2ª, a culpa não morrera solteira.
Porém desejo que tenha um final feliz.
Meu caro, um bom general estende sempre a mão ao soldado que
quer levantar-se, e estende sempre a perna para empurrar o soldado que quer
cair. Nunca arrisca a vida do seu regimento por causo dos parasitas.
Senão perceberes isto nunca serás um bom general. E se não
arrepiares caminho, tenho muita pena mas estás aqui estás a sentar-te para “escrever duas cartas”.