segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Senta-te, e escreve duas cartas

02/01/2014

          Em Monção, o clássico bailado de dança das cadeiras do poder, fez lembrar-me a cena do filme “Traffic” onde o velho general fazia a passagem de testemunho ao seu substituto.
          “Traffic” um filme Germano-Americano de 2000, dirigido por Steven Soderberg que relatava o narcotráfico de diversas prospetivas: de um usuário, de um capanga, de um político, e de um traficante.
          A determinada altura, um velho General experiente, fazia a passagem de testemunho da coordenação da luta contra o tráfico de droga ao seu sucessor, a quem contava a história do antigo líder russo Kruschev, que quando forçado a sair, se sentou, escreveu duas cartas para entregar ao seu sucessor com as seguintes recomendações. “Quando chegares a uma situação sem saída, abre a primeira carta e estarás safo”. “Quando voltares a encontrar-te em situação idêntica abre a segunda carta”.
          O novo e inexperiente aspirante a general depressa levou a coordenação a um beco sem saída, abriu a primeira carta que apenas dizia: “Culpa-me de tudo”. A solução revelou-se eficaz. Tudo era culpa do passado.
          Depois de algum tempo a situação voltou a degradar-se até cair na segunda situação limite. Esperançado, o novo dirigente abriu a segunda carta que dizia: “Senta-te e escreve duas cartas”.
          Mais do que o conteúdo das cartas, marcou-me a carga metafórica do velho general, vergado pela experiência de vida, consciente das suas capacidades em contraponto com o inexperiente sucessor crente que a sua motivação, convicções e princípios iriam fazer a diferença.
          É com tristeza que vejo Monção a caminhar para uma situação sem saída. O sucessor não tardou em abrir a primeira carta não só para disfarçar o beco sem saída culpando o passado, mas tão somente criar para si próprio um currículo que definitivamente não tem e dificilmente um dia terá.
          Os sinais anunciam uma governação de navegação à vista, sem rumo e sem horizonte baseada na culpabilização do velho general e do passado. A falta de gabinetes para vereadores e deputados da oposição, a não consolidação da divida, o atraso nas atividades extracurriculares, os parquímetros, os velhos hábitos forrobodescos com os tradicionais magustos, jantares de Natal a 23 pagos por quem a 24 só pode cheirar o bacalhau. E ainda o forrobodó de “atividades de laser” promovidas pelos boys de serviço e personalizadas pelo pessoal de sempre, levadas a cabo nas piscinas, ginásio e cineteatro para que não falte exercício físico, banho e relaxamento com comédia de Ópera-bufa para retratar a triste realidade Monçanense.
          Consta ainda no rosário do despesismo as abastadas e luxuosas excursões, e o turismo subsidiado dos tesos. Enquanto os vizinhos arrecadam os euros nós requisitámos funcionárias para servir refeições aos turistas tesos, velhos “habitués” da nossa mesa do orçamento, enquanto os nossos restaurantes andam às moscas. Completa-se o ramalhete com o pagamento das penhoras e faturas da EDP para manter em pé os moribundos caprichos futebolescos.
          É claro que todo este clamor será administrado pela carrada de nomeações de “chefes”, que ao contrário dos professores, não tem de pagar e provar que sabem o que já sabiam, para começar a faturar com salários principescos passeando incompetência e ignorância por cima de anos de profissionalismo de pais de família e gestores privados que veem assim banalizado e emporcalhado o esforço e o fruto do seu trabalho que é transformado no papel higiénico destes coveiros da sociedade.    
          Estranho seria se um incompetente não nomeasse outro da sua laia que por sua vez seguirá o guião da incompetência até colocar a cereja no bolo da desgraça final. É por causa destas incompetências que pagamos décadas de despesismo desde o tempo da ditadura até ao tempo da “dita mole” tão flácida e impotente que nem com óculos de ler se vislumbra qualquer crescimento sustentável.
          Cinefilamente falando, parece que o aspirante a general ainda não percebeu que os amantes da 7ª arte já não se limitam a querer a mudança dos atores incompetentes como afirmam que já estão fartos de ver este (Traffic) filme de clara cultura de arrebanhamento, promoção da ociosidade e despesismo, em vez de promover as escolas, a indústria, o comércio, serviços, agricultura e o pleno emprego para que a gente de Monção encontre a sua dignidade de ser gente e o caminho da verdadeira cultura da liberdade.
          Arrepiou-me a resposta que o sucessor deu aos colegas numa reunião do executivo Camarário quando se ponderava uma auditoria às contas. “Não vale a pena, porque me palpita que a Camara vai ser auditada pela IGF”. Assim mesmo e sem pestanejar.
          Sem palpites, seria muito mais correto o sucessor ter informado os colegas que a Camara vai ser inspecionada (ou já foi) por causa do ginásio municipal. Que vai pagar a coima (ou já pagou) de uma contraordenação. Que vai ter de repor o IVA (ou já repôs) desde Outubro de 2010 a novembro de 2013. Que o contribuinte vai ter de continuar e abastecer a manjedoura do elefante para pagar estas ilegalidades. Que em setembro de 2013 andaram sorrateiramente a incluir o IVA nos preços do ginásio, mas em vez de aumentar diminuíram 23% para que tudo ficasse na mesma e para mostrar que vale tudo enquanto o contribuinte aguentar e a concorrência não for definitivamente enterrada.
          Não ficaria admirado se o coador das fugas tivesse largado mais uma, como a do polícia que vai a caminho e avisa o gatuno para fugir, razão pela qual terá sido incluído o IVA à pressa antes de a inspeção chegar. Ou então a inspeção já terá sido efetuada, mas como a governação em Monção era do tipo confidencial, os donos da coutada esqueceram a regra que a verdade é como o azeite, por mais reviravoltas que se dê acaba sempre por vir ao decima.
          Até salivo só de pensar no meu avô quando dizia, “quem não sabe F…. (que rima com prazer) até os C…… (que rima com balões) lhe enredam,” razão que me obrigou a fazer-me à vida desde tenra idade. Na mesma linha de pensamento filosófico deste naco de sabedoria, o meu avô acrescentava: “certa gente não F… (que rima com não pode) nem deixa F…. (que rima com prazer) ”. O mesmo que dizer que os parasitas, “nem trabalham nem deixam trabalhar.”
          É lamentável, arriscado e de péssimo mau gosto que certa “gentalha” se sirva do poder para tentar humilhar, apoucar, brincar com a dignidade e a vida profissional de jovens que investem e criam empregos na sua terra, “sem lamber os C…… (que rima com balões) a ninguém.”
          Da profundidade deste mar de dúvidas emergem duas certezas: 1ª, ninguém tem C….. (que rima com balões) para prever o final deste (Traffic) filme. 2ª, a culpa não morrera solteira. Porém desejo que tenha um final feliz.
          Meu caro, um bom general estende sempre a mão ao soldado que quer levantar-se, e estende sempre a perna para empurrar o soldado que quer cair. Nunca arrisca a vida do seu regimento por causo dos parasitas.
          Senão perceberes isto nunca serás um bom general. E se não arrepiares caminho, tenho muita pena mas estás aqui estás a sentar-te para “escrever duas cartas”.

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