quarta-feira, 2 de abril de 2014

Encantadores de burros


          02/04/2014
          Para melhorar o diálogo com a parelha de fiéis amigos, filhos de pai incógnito como outros filhos de amigos menos fiéis, levou-me a coscuvilhar sobre o assunto até encontrar o escritor mexicano Cesar Millan Favela, mundialmente conhecido por “encantador de cães”.
          Antes de encontrar o famoso especialista, os motores de busca foram encontrar uma vasta lista de encantadores de burros, encabeçada por antigos e atuais governantes, acompanhados da habitual passarada política de “pintassilgos e rouxinóis, morcegos e patos-negros, galinholas e pardais, que infelizmente (como diz o Vitorino), cada vez há mais”
          Dizia o velho Napolitano, “si no è vero è bem trovato”. O autor desta lista nem terá pensado na desgraça da extinção do Burro Mirandês, mas sim no alastramento e extensão do Burro Português resistente à medicação e às adversidades, sem aftas nem fastio, capaz de devorar qualquer palha que lhe ponham na frente.
          Burros, aves de rapina e encantadores, travam uma luta sem tréguas para conquistar o lugar no poleiro com a promessa garantida que depois de empoleirados vão devolver as reformas e os salários roubados, reabrir hospitais, escolas e tribunais, e se necessário for, até vão ressuscitar os falecidos desde a vigência da troika, resgatando os mortos-vivos do braseiro infernal para uma nova vidinha celestial.
          Chega o mês de maio, mês de Maria, vai-se a troika quando o relógio do CDS parar, rezemos à Virgem de Fátima pela alma dos bem-aventurados Pedro e Paulo, e pela (suja) saída limpa do resgate, para agradece-lhe a limpeza que nos fizeram na carteira, depois de limparem o sebo a metade dos salários e das reformas, depois de terem aumentado a divida, sepultado quatrocentos mil postos de trabalho, e aliviado o povo da pesada carga de lucros que vinham da EDP, da REN, da ANA, dos CTT, dos ESNVC, da Caixa-Seguros, e de mais 78 mil milhões da troika, seguidos em breve da TAP e das Aguas de Portugal. Só falta vender a avó por falta de mercado, antes que o relógio do CDS seja substituído pela barriga do povo a dar horas nos próximos 20 anos, por causa da maldade de Pedro e Paulo que em menos de uma troika de anos conseguiram por o país pior que o chapéu de um trolha.
          Tudo não passa de uma estratégia protagonizada por “gangs”, formados de Pedros e Paulos selecionados para servir o dono e para fazer com que os ricos sejam cada vez mais e mais ricos, e os pobres sejam cada vez mais e mais pobres, deixando pelo caminho uma classe média na penúria irremediavelmente destroçada.
          Para eles os galões e promoções, para nós os apertões e restrições. Desde o pântano de Guterres à tanga de Barroso, um na sopa dos pobres, outro nos luxos da europa, ambos na calha da candidatura à presidência da república. Vítor Constâncio no BCE pela falência do povo e do BPN. Catroga com 50 mil euros mensais pela doação da EDP aos chineses. Gaspar volta à casa-mãe do FMI pela destruição do país. Arnaut no banco mais poderoso do mundo GOLDMAN SACHES pela ligação entre poder e poderosos para despachar as privatizações. Álvaro na OCDE pela promoção dos pastéis de belém. Enquanto nós alimentamos as fileiras do desemprego antes de ser alimentados pelos bancos alimentares contra a fome, rezando ao pai do céu para que a prescrição da fome e do desemprego tenha o mesmo tratamento das prescrições milionárias de Jardim Gonçalves e amigos da mesma laia.
          Para o funeral da pátria, temos as “carpideiras” Cavaco e Soares que choram lagrimas de crocodilo com a miséria dos reformados de 200 euros, desde que não lhe mexam nas milionárias reformas e negócios familiares. O genro de um(a), amarfanhou em 2012 o MEO Arena (reencarnação do falecido Pavilhão Atlântico) por21,2 milhões, que em 1998 nos custou 55 milhões. O(a) outro(a), ao faturar mais de 300 mil euros anuais à custa do suor do povo, fatura mais do que qualquer pequena ou média empresa, com despesas de Gabinete, Secretaria, Assessor, Carro, Motorista, e ajudas de custo em deslocações oficiais e oficiosas de palestras com o povo su(g)ado que aplaude entusiasticamente para agradecer-lhe a colaboração e presença no desfile a caminho da desgraça do país.
          Quantos mais reformados de 200€ terão de ser sacrificados? Quantos filhos terão de ficar sem teto? Quantos netos terão de emigrar para que estas trituradoras do erário público continuem a usufruir destes luxos numa pátria falida onde o prato do dia é a fome? Só falta galardoar o padrasto da reforma do IRC, que em harmonia com o ministro da economia, (mais conhecido por ministro das cervejas), deu um jeitão aos patrões das grandes empresas, permitindo-lhe por mais uns trocos na bolsa de valores, tirados da bolsa de estudos dos cientistas, e dos bolsos dos pensionistas, tudo em nome da pobreza e da (CES) Contribuição Extraordinária de Solidariedade para ricos. Eles juram que vivemos acima das nossas possibilidades e da nossa inteligência, na verdade se 40 anos depois de abril a transformar essa gente em governantes ainda não foi suficiente para aprender a obriga-los a cumprir as promessas que fazem, é porque somos irremediavelmente burros.
          Pobres heróis do mar, pobre povo de brandos costume, depois de perder heroísmo e nobreza foi transformado num povo de cagões sem valores, amordaçado e sem costumes nenhuns.
          Bem podia calar-me e acatar o conselho que nos Simpson, Homer deu ao filho Bart: “para ter sucesso na vida deverás repetir sempre a frase”:Boa ideia chefe”. Nunca ninguém se queixou que dar graxa lhe tenha prejudicado a carreira, é mais fácil encontrar um marciano verde-alface de que encontrar um chefe insensível à bajulação. Não gosto de chefes. Desconfio deles ao ponto que quando atravesso uma rua de sentido único olho sempre para os dois lados com receio que venha um em contramão para me atropelar. Eles também não gostam de mim. Preferem rejubilar no meio dos que atravessam a autoestrada sem olhar para lado nenhum, podendo assim atropelar à vontade os que passam a vida a lamber botas e aos trambolhões, espelhando assim a decadência do País.
          Sem heroísmos nem nobrezas, bastava-nos alguma dignidade para obrigar os governantes a iniciar as reformas do estado pela reforma do IRS e do IVA. Assim o povo teria mais dinheiro no bolso e mais poder de compra, consumiria mais, haveria mais procura, mais criação de novas empresas e mais empregos, haveria mais gente a pagar impostos e a descontar para o IRS e S Social, aumentariam as receitas, os salários, as reformas, a proteção social, os cuidados com a saúde, a educação etc. etc. É neste etc. que começa o receio dos governantes. Um povo com melhores salários e melhores reformas fica mais resmungão, mais reivindicativo e mais difícil de governar. A estratégia dos encantadores é de manter os burros de cabresto e o freio bem apertado.
          Já que representamos alegremente a cauda da europa, vamos abana-la para enxotar as moscas das substâncias excrementícias da história do passarinho.“Uma manhã fria de inverno andava uma senhora vaca a pastar na pradaria. Na sua frente um passarinho todo molhado chorava quase a morrer de frio. Com pena do passarinho a senhora vaca aproximou-se e deitou-lhe uma bosta em cima para o aquecer e salvar-lhe a vida. Passado algum tempo já fora de perigo o passarinho começou a gritar para que alguém o tirasse dali. Uma senhora raposa ouviu o passarinho gritar, aproximou-se e com a ponta dos dedos tirou o passarinho da bosta, limpou-o delicadamente na erva e comeu-o”. Moral da história: “Nem sempre quem nos tira da merda tem a intenção de nos salvar”.

1 comentário:

Unknown disse...

Como sempre, na muche, mas mexer na bosta implica cheiro, e esta gente de que fala é complicada, manhosa e vingativa...