Pois é: tantas vezes com razão se diz: “este anda a ver filmes a mais”. Também é verdade que são esses filmes que por vezes nos acordam para a realidade e para os malefícios causados pela ronha e arte-maldosa dos artistas da nossa “cinematografia” política.
Daí o título da crónica que vem
direitinho do filme “O Clã dos Sicilianos”, uma obra-prima protagonizada por um
elenco de luxo com “monstros-sagrados” como, Jean Gabain, Lino Ventura e Alain Delon,
entre outros de igual consagração.
O “Clã dos Sicilianos”, relata a
fuga do protagonista da cadeia com a ajuda de uma família de mafiosos dirigidos
pelo patriarca da família. Em liberdade o fugitivo propõe aos cúmplices o
assalto a uma coleção de valiosas joias que deverão ser transferidas de Itália,
para a América do Norte.
Se o filme se adapta como uma
luva de pelica à “mafia” do nosso dia-a-dia, a culpa não é minha. E, para que a
coisa não se fique pelas meias tintas, podemos comparar o filme dos mafiosos Sicilianos
à nossa triste sina quotidiana, com a populaça na reles figura de tristes figurantes.
Começaríamos por classificar as
tristes figuras que perdem o fio à meada logo no início, e só no “THE END”
acordam para a realidade de sempre. Nos vários escalões temos os que fazem, os que
veem os outros fazer, os que criticam o que os outros fazem, os que não fazem
nem conseguem ver o que foi feito, mas que em conjunto depois de arrebanhados se
convertem num viveiro com produção acelerada de governantes, para transformar
os poucos que fazem na vaca-leiteira do estábulo e nos palhaços do circo.
Um amigo sem rebanho nem manjedoura,
contou-me que para fazer um empréstimo lhe exigiram a hipoteca de tudo que
tinha, acrescido de tudo que hipoteticamente um dia viria a ter, incluindo os
avós que já tivera. Ora não tendo avós nem bens deles para hipotecar, percebeu logo
à primeiro que aquele tipo de credores seria mais destinado a creditar
políticos e amigos da onça. Desconsolado “a ovelha negra” decidiu levar o
peditório para outra freguesia onde se respeitassem as famílias e a alma dos
falecidos.
Encaixilhar os figurantes
dormentes, com os amigos da onça existentes no quadro do “Clã dos Sicilianos”,
é para muitos, coisa impossível, e para outros uma feliz comparação.
Sem ofensa para os mafiosos de alta craveira
que arriscam a vida em cada minuto para conseguir transferir jóias valiosas, os
políticos arrebanham famílias e se transformam em seus representantes, formando
um polvo de tentáculos ramificados em todos os cargos de decisão, com poderes
para a seu-bel-prazer transferir as joias da coroa sem arriscar a vida ou seja
o que for.
O polvo move-se para criar
empresas fictícias, que se capitalizam sem necessidade de hipotecar os avós,
funcionando apenas o tempo necessário para esconder o capital antes da insolvência,
e de voltar a chamar os tristes de sempre a esticar a língua mais três palmos para
pagar as favas e a recapitalização da próxima empresa fantasma.
O mais estranho é que quando as
coisas acontecem, toda a malta fica incrédula a queixar-se de nunca ter dado
por nada, quando na verdade tudo é feito às claras da luz do dia, ou da noite
com a luz do Mexia (tentáculo do molúsculo) que se queixa de ganhar o mísero
salário d’um craque da bola com vantagem de nunca falhar os penaltis.
Há dias num painel de
comentadores, um ilustre advogado-político desfazia-se em elogios à vinda de mais
um(a) político(a) para a nova administração da CGD, que por coincidência tem as
mesmas inicias do (CGD) “Clã de Gatunos e Delinquentes. Quando um dos
“paineleiros” lhe perguntou onde viu tantas virtudes na nova aquisição que a
ele lhe teriam passado ao lado, o ilustre (lambe-botas) calou-se dando a
entender que é mais rentável ficar perto de quem tem a chave da porta, em vez
de arrombar com pé de cabra e assaltar de Kalashnikof, só em uso pelos que
perderam a lei à vida e não sabem fazer mais nada.
Hoje, sábios e sabichões tentam
explicar à malta o buraco-negro da CGD, com a famosa tática que os pais explicam
aos filhos a chegada dos manitos que vem de Paris, com a diferença de agora em
vez da criançada a cegonha trazer água no bico.
Bem-haja a cegonha que desde os anos
80 e do célebre apagão se tem fartado de abastecer o ninho, formando uma
família de manitos trabalhadores e cavadores de buracos-negros com profundidade
de 3 mil milhões, que o nosso primeiro António-das-cantilenas quer 5 mil
milhões, para não andar chatear a malta todos os dias.
Para que a festa seja completa falta
agora assistir ao desfile dos novos galardoados, a caminho da galeria onde já
mora o Sr. Comendador “Quaresma” a quem se juntarão os futuros reis-da-finta-Comendadores,
tal como: “Alexandre Sobral Torres, Alexandre Vaz Pinto, Almerindo Marques,
Álvaro Pinto Correia, António de Sousa, António Castro Guerra, António
Vitorino, Carlos de Oliveira Cruz, Carlos Tavares, Celeste Cardona, Daniel
Proença de Carvalho, Eugénio Ramos, Faria de Oliveira, Francisco Esteves de
Carvalho, João Salgueiro, Luís Alves Monteiro, Morteira Nabo, Norberto Rosa, Mário
Cristina Sousa, Luiz Mira Amaral, Pedro Dias Alves, Armando Vara, Mário Lino”,
etc. etc.
Agora que o vento sopra de feição
a anunciar chuva forte de condecorações, depois da seca e do jejum com Pulinho
das feiras, Pedro de Massamá, e com o Cavaco e a Maria, chegou agora a abundância
com os beneméritos da coisa pública chefiada pelo festivaleiro Marcelo das
medalhas, capaz de um dia mostrar aos velhinhos do Lar como humildemente se come
da marmita, para no seguinte mostrar como se come caviar no iate do amigo Salgado,
e depois recusar a Berline de gama alta na presidência, mas que não se enfastia
de por a voar um Falcão da Força Aérea Nacional para ir ver um jogo de futebol
a Lyon (França).
Tudo isto recheado do “Geringonço”,
António-das-Cantilenas Rei-da-Geringonça em permanente campanha eleitoral (desde
que agarrou o poder pela porta do jerico) para ver se escapa à fogueira na
praça pública, evitando assim transformar em cinzas a (já) defunta carreira
politica.
Enfim, tudo boa-gente
trabalhadora, que pouco a pouco vai cavando bem fundo, sem grande ruido de
superfície, a sepultura onde a Pátria será sepultada para a eternidade.
Agora que a Geringonça safou-de-vez, e que a
demagogia política vai avançando colidindo com a realidade de já pagarmos (IMI)
o sol e o ar que respiramos, fica cada vez mais claro a fatalidade na permanência
da austeridade e o regresso de mais um doloroso resgate já a caminho.
Sem um amplo escrutínio e forte
contestação a este tipo de gente, que nos promete uma democracia de eterno céu
azul sem espirros nem constipações, mas que não passa de uma ditadura
assolapada a fazer de nós uns anjinhos de cera a amarelecer no altar.
Finalmente 40 anos não foram
suficientes para que estes anjinhos de cera deixassem de ter medo de usufruir da
liberdade que outros anjos-da-guarda conquistaram a pulso.