domingo, 14 de agosto de 2016

(CGD) “Clã de Gatunos e Delinquentes”

         

          Pois é: tantas vezes com razão se diz: “este anda a ver filmes a mais”. Também é verdade que são esses filmes que por vezes nos acordam para a realidade e para os malefícios causados pela ronha e arte-maldosa dos artistas da nossa “cinematografia” política.
          Daí o título da crónica que vem direitinho do filme “O Clã dos Sicilianos”, uma obra-prima protagonizada por um elenco de luxo com “monstros-sagrados” como, Jean Gabain, Lino Ventura e Alain Delon, entre outros de igual consagração.
          O “Clã dos Sicilianos”, relata a fuga do protagonista da cadeia com a ajuda de uma família de mafiosos dirigidos pelo patriarca da família. Em liberdade o fugitivo propõe aos cúmplices o assalto a uma coleção de valiosas joias que deverão ser transferidas de Itália, para a América do Norte.
          Se o filme se adapta como uma luva de pelica à “mafia” do nosso dia-a-dia, a culpa não é minha. E, para que a coisa não se fique pelas meias tintas, podemos comparar o filme dos mafiosos Sicilianos à nossa triste sina quotidiana, com a populaça na reles figura de tristes figurantes.
          Começaríamos por classificar as tristes figuras que perdem o fio à meada logo no início, e só no “THE END” acordam para a realidade de sempre. Nos vários escalões temos os que fazem, os que veem os outros fazer, os que criticam o que os outros fazem, os que não fazem nem conseguem ver o que foi feito, mas que em conjunto depois de arrebanhados se convertem num viveiro com produção acelerada de governantes, para transformar os poucos que fazem na vaca-leiteira do estábulo e nos palhaços do circo.
          Um amigo sem rebanho nem manjedoura, contou-me que para fazer um empréstimo lhe exigiram a hipoteca de tudo que tinha, acrescido de tudo que hipoteticamente um dia viria a ter, incluindo os avós que já tivera. Ora não tendo avós nem bens deles para hipotecar, percebeu logo à primeiro que aquele tipo de credores seria mais destinado a creditar políticos e amigos da onça. Desconsolado “a ovelha negra” decidiu levar o peditório para outra freguesia onde se respeitassem as famílias e a alma dos falecidos.
          Encaixilhar os figurantes dormentes, com os amigos da onça existentes no quadro do “Clã dos Sicilianos”, é para muitos, coisa impossível, e para outros uma feliz comparação.
          Sem ofensa para os mafiosos de alta craveira que arriscam a vida em cada minuto para conseguir transferir jóias valiosas, os políticos arrebanham famílias e se transformam em seus representantes, formando um polvo de tentáculos ramificados em todos os cargos de decisão, com poderes para a seu-bel-prazer transferir as joias da coroa sem arriscar a vida ou seja o que for.
          O polvo move-se para criar empresas fictícias, que se capitalizam sem necessidade de hipotecar os avós, funcionando apenas o tempo necessário para esconder o capital antes da insolvência, e de voltar a chamar os tristes de sempre a esticar a língua mais três palmos para pagar as favas e a recapitalização da próxima empresa fantasma.
          O mais estranho é que quando as coisas acontecem, toda a malta fica incrédula a queixar-se de nunca ter dado por nada, quando na verdade tudo é feito às claras da luz do dia, ou da noite com a luz do Mexia (tentáculo do molúsculo) que se queixa de ganhar o mísero salário d’um craque da bola com vantagem de nunca falhar os penaltis.
          Há dias num painel de comentadores, um ilustre advogado-político desfazia-se em elogios à vinda de mais um(a) político(a) para a nova administração da CGD, que por coincidência tem as mesmas inicias do (CGD) “Clã de Gatunos e Delinquentes. Quando um dos “paineleiros” lhe perguntou onde viu tantas virtudes na nova aquisição que a ele lhe teriam passado ao lado, o ilustre (lambe-botas) calou-se dando a entender que é mais rentável ficar perto de quem tem a chave da porta, em vez de arrombar com pé de cabra e assaltar de Kalashnikof, só em uso pelos que perderam a lei à vida e não sabem fazer mais nada.
          Hoje, sábios e sabichões tentam explicar à malta o buraco-negro da CGD, com a famosa tática que os pais explicam aos filhos a chegada dos manitos que vem de Paris, com a diferença de agora em vez da criançada a cegonha trazer água no bico.
          Bem-haja a cegonha que desde os anos 80 e do célebre apagão se tem fartado de abastecer o ninho, formando uma família de manitos trabalhadores e cavadores de buracos-negros com profundidade de 3 mil milhões, que o nosso primeiro António-das-cantilenas quer 5 mil milhões, para não andar chatear a malta todos os dias.
          Para que a festa seja completa falta agora assistir ao desfile dos novos galardoados, a caminho da galeria onde já mora o Sr. Comendador “Quaresma” a quem se juntarão os futuros reis-da-finta-Comendadores, tal como: “Alexandre Sobral Torres, Alexandre Vaz Pinto, Almerindo Marques, Álvaro Pinto Correia, António de Sousa, António Castro Guerra, António Vitorino, Carlos de Oliveira Cruz, Carlos Tavares, Celeste Cardona, Daniel Proença de Carvalho, Eugénio Ramos, Faria de Oliveira, Francisco Esteves de Carvalho, João Salgueiro, Luís Alves Monteiro, Morteira Nabo, Norberto Rosa, Mário Cristina Sousa, Luiz Mira Amaral, Pedro Dias Alves, Armando Vara, Mário Lino”, etc. etc.
          Agora que o vento sopra de feição a anunciar chuva forte de condecorações, depois da seca e do jejum com Pulinho das feiras, Pedro de Massamá, e com o Cavaco e a Maria, chegou agora a abundância com os beneméritos da coisa pública chefiada pelo festivaleiro Marcelo das medalhas, capaz de um dia mostrar aos velhinhos do Lar como humildemente se come da marmita, para no seguinte mostrar como se come caviar no iate do amigo Salgado, e depois recusar a Berline de gama alta na presidência, mas que não se enfastia de por a voar um Falcão da Força Aérea Nacional para ir ver um jogo de futebol a Lyon (França).
          Tudo isto recheado do “Geringonço”, António-das-Cantilenas Rei-da-Geringonça em permanente campanha eleitoral (desde que agarrou o poder pela porta do jerico) para ver se escapa à fogueira na praça pública, evitando assim transformar em cinzas a (já) defunta carreira politica.
          Enfim, tudo boa-gente trabalhadora, que pouco a pouco vai cavando bem fundo, sem grande ruido de superfície, a sepultura onde a Pátria será sepultada para a eternidade.
          Agora que a Geringonça safou-de-vez, e que a demagogia política vai avançando colidindo com a realidade de já pagarmos (IMI) o sol e o ar que respiramos, fica cada vez mais claro a fatalidade na permanência da austeridade e o regresso de mais um doloroso resgate já a caminho.
          Sem um amplo escrutínio e forte contestação a este tipo de gente, que nos promete uma democracia de eterno céu azul sem espirros nem constipações, mas que não passa de uma ditadura assolapada a fazer de nós uns anjinhos de cera a amarelecer no altar.
          Finalmente 40 anos não foram suficientes para que estes anjinhos de cera deixassem de ter medo de usufruir da liberdade que outros anjos-da-guarda conquistaram a pulso.