terça-feira, 16 de setembro de 2014

Ali Babá e Al Capone: uns anjinhos.

          16/09/2014
          Quem já ouviu falar de ladrões do calibre de Barrabás até aos Dalton, de Bonnie e Clyde até Albert Spaggieri, sem esquecer os caseiros Zé dos Telhados e Oliveira e Costa, pensava ter visto tudo na vida e dificilmente seria surpreendido com novas histórias dos amigos do alheio. Assim seria se não tivesse esquecido que isto é um viveiro de artistas do gamanço capazes de fazer corar os mais lendários gatunos da história da ladroagem.
          Aqui vai mais uma história que nos assenta como uma luva. “Era uma vez um país que poderia ser o nosso, governado por um governo bicéfalo que nos caiu do céu aos trambolhões, fruto das melhores escolas internacionais da gatunagem, suficientemente traquejado na arte da roubalheira.
          Protegido por um Presidente da República, mais preocupado com a pose da sua Maria e com o descanso dos guerreiros jubilados do (BPN) “Bom Paraíso Nacional”, amigos dos velhos tempos quando as “boas ações” dobravam como a chouriças da minha avó, antes de serem penduradas ao fumeiro como foram penduradas as “ações más” do BES. “Boa Estratégia a Saquear”.
          Esclarecedoras são as declarações do Ex-administrador Godinho Matos, que diz ter recebido 2400 € por cada reunião sem nunca abrir a boca, e que sabia tanto de bancos como de calceteiro. Se lhe acrescentarmos o “Dono Disto Tudo” e a lista de calceteiros envolvidos na dança de cadeiras entre o BEStial e Governos desde 1976, e o BESta em que se transformou com a bênção dos sentinelas, Presidentes da R, Governadores do BP e Comissões de MVM.
          Aqui vai o rol dos “ca(l)ceteiros” de serviço. “Lopes Raimundo, Proença de Carvalho, Cristóvão Moreira, Rui Vilar, Almerindo Marques, Silveira Godinho, Rui Carp, Alexandre Pinto, Mário Adegas, Ernâni Lopes, Murteira Nabo, Rui Machete, António Mexia, Maria Bustorff, Miguel Frasquilho, Maria de Belém, Luís Macedo, Epifânio da Franca, Horta e Costa, Manuel Lencastre, Manuel Pinho, Bernardo Trindade, Rita Barrosa, Pedro Gonçalves, Leonardo Matias, Jaime Gama, Moreira Rato sem contar a carrada de deputados como Mota Pinto e outros destacados consultores como o (cherne) Durão Barroso”. O trio agora destacado para escrever o último capítulo é formado por Bento, Rato e Mota, destacados artistas da pista de dança pela sua mobilidade e fidelidade ao dono.
          A exemplo do que fazem os caminheiros de S. Tiago com o tratamento dos calos e a escolha das sapatilhas, tudo foi preparado ao pormenor para que a caminhada não encravasse a meio do percurso. Era indispensável limpar o terreno com o despacho de Marinho Pinto para Bruxelas, a fim minimizar o alarido caseiro, enquanto o BE anda entretido a colar os cacos, o PC nas manifestações da CGTP e o PS fora de combate até dividir a pera a meio.
          Para evitar falsos julgamentos, foi necessário também imobilizar a justiça com o encerramento de vários tribunais para acabar de entulhar os restantes com despachos de providências cautelares de professores e sindicatos, sendo o restante tempo ocupado a despachar sentenças dos pilha-galinhas, que enquanto há ovos no ninho e galinhas na capoeira, temos que fazer pela vida para não morrer à míngua antes que eles comam tudo e não deixem nada. Convém não ser apanhados, para não pagar a caução máxima que nos limpa o salário mínimo, ao contrário dos pilha-fortunas que calculam a coisa por grosso e atacado. Quando lhe pedem a caução de três milhões, já tem trezentos ao fresco por causa da mosca varejeira.
          Faltava só esperar pelo momento certo, com o Zé-povinho entretido a curtir o querido mês de agosto nos bailaricos da paróquia. Cumpridas todas as formalidades, estava o caminho aberto para dar início à colheita que foi executada com rapidez e sem espinhas.
          Em Setembro de 2013 a “situação” do (BES) “Boa Estratégia a Saquear” não era segredo para nenhum dos protagonistas em campo. Em 30 de Abril de 2014, as ações do BES valiam 1, 44 euros e o banco valia 5.127 mil milhões de euros.
          Sabendo da existência de “problemas”, nem Governo nem Presidente da República se opuseram a que em 15/05/2014 o Governador do Banco de Portugal e a CMVM autorizassem o pedido do aumento de capital de 1.045 mil milhões de euros, certamente para aumentar a colheita prevista e convencer os acionistas que tudo corria as mil maravilhas.
          Em 15/05/2014 o BES apresentou lucro de 576 milões de euros. Em 27/05 iniciou a subscrição do aumento de capital até 09/06/2014. Terminado o aumento de capital com sucesso, o BES passou a valer 6.085 mil milhões de euros. Em 14/07/2014 com uma maquia apreciável entrou em cena o trio destacado pelo governo, tomou conta do livro de cheques, pagou aos amigos que lhe apeteceu e em 30/07/2014 o banco já tinha um prejuízo de 3.577 mil milhões de euros. Porém, as notícias continuavam a ser animadoras com (ventríloquo) o Governador do Banco de Portugal a usar a credibilidade da instituição para ler a cartilha no teleponto a fim de manter unidos acionistas e investidores na caminhada até ao cadafalso.
          A CMVM continuava a assobiar para o lado com as informações que eram dadas aos amigos para despachar as ações a fim de descapitalizar o banco, e se possível caçar os sem-abrigo de informação a comprar ações para fazerem o negócio da sua vida. Entretanto a PT e a Goldman Sachs retiravam os seus investimentos.
          Por um triz que a estratégia não ia pela água abaixo. Sexta-feira, com o fim-de-semana à porta, os mercados quase a fechar e os amigos que confiaram nos representantes institucionais a partiram em weekend descansados, enquanto o BEStial moribundo continuava a estrebuchar, até que a quadrilha pôs a carne toda no assador, fez mais uns contactos, e em menos de dez minutos as ações caíram 40% para o valor de doze cêntimos, atirando o capital de 6.085 mil milhões para menos de 650 milhões, transformando o BEStial em BESta sem condições de conservar a licença de banco, que no preciso momento foi atirado para a liquidação.
          Em 01/08/2014, entramos então no primeiro fim-de-semana preenchido por conselhos de ministros (veraneantes), desde a Manta-rota até Curral-de-moinas para limar as arestas e comemorar o êxito da operação.
          Na segunda-feira dia 4 do querido mês de agosto, acordamos com um BEStial falido e um “novo” BESta teso a precisar de ser capitalizado com 4.500 mil milhões do “povo-Troika”, mais 400 milhões do “povo-FRC”, Fundo de Resolução do Banco.
          Dada a minha ignara condição, sei que não tenho condições para contestar tecnicamente as opiniões dessa gente. Porém, depois de anos-a-fio a “virar frangos” e outros tantos a observar estes cromos, permito-me afirmar com segurança que os neurónios dessa tralha são mesmo lixo. Diria mesmo, esterco que a Moody’s escolheu para batizar o recém-nascido. Assistiremos agora ao assalto dos meios de comunicação para nos convencer dos benefícios desta operação. “Muito obrigado”.
          Assim termina mais uma história do gangsterismo inter-Nacional. É certo que roubos existem em todo o mundo, com a diferença de nesse mundo o povo meter os ladrões na cadeia ao contrário deste outro mundo em que o povo os deixa à solta a dar lições de moral, antes de serem promovidos a “Donos Disto Tudo” por ignorantes culpados pelos “Danos de Tudo Isto”. Em comparação com esta malta, Ali Babá e Al Capone eram uns anjinhos.